Conheci o João Correia na primeira edição do So You Think You Can Pitch. No meio de todas as pessoas presentes, metemos conversa um com o outro e desde de então temos vindo a falar ocasionalmente.
Devido a essas conversas, acabei por descobrir que ele planeou um projeto sobre as Aldeias de Xisto em Portugal intitulado X.TO, como fruto da investigação para a sua tese de Mestrado em Comunicação Multimédia na Universidade de Aveiro que se encontra no momento a frequentar.
Desde de logo, o João demonstrou uma vontade enorme em conseguir levar o trabalho avante e, por essa razão, realizou um pequeno vídeo em que explica os objetivos do projeto, as razões da sua escolha e, mais importante, a explicação da sua escolha de financiamento: o Crowd Funding.
Dito tudo aquilo, passo a explicar a verdadeira razão deste post. Por um lado, quero ajudar o João a divulgar o seu projeto. Que considero que além de ser muitíssimo interessante, no final vai-se obter um documentário recente, criativo e que poderá promover mundialmente esta caraterística da cultura portuguesa. Pelo que o João me disse através de uma conversa no facebook, as pessoas têm se mostrado muito participativas e simpáticas em ajudá-lo. Percebeu a certa altura que é melhor deixar de ter um fio condutor, mas na minha opinião isso é bom. Porque mesmo depois de muito planeamento das fases de pré-produção, produção e pós-produção, apenas no terreno sabemos com o que contar. E muitas vezes isso leva-nos a obter melhores resultados.
Noutra vertente, quero pegar num exemplo concreto de alguém que recorreu ao Crowd Funding, que neste caso foi a plataforma PPL, para conseguir o financiamento necessário para o arranque. Que aliás aconteceu apenas há umas semanas atrás.
Dito de outra forma, quero que aqueles que lerem este post sejam influenciados na decisão quando se encontrarem em dúvidas sobre se devem avançar com esta estratégia ou não.
Assim, convidei o João a dar uma entrevista para o Arte de Se Exprimir. Através da mesma podem saber mais pormenores sobre o projeto, conhecer melhor o próprio João e as suas opiniões sobre o cinema, entre outros pontos.
Resta dizer que podem acompanhar o desenvolvimento do projeto no seu blog de produção. Segue a entrevista:
1. Fala-nos um pouco de ti e sobre as razões que te levaram a escolher o cinema como área profissional?
Apesar de surgir como uma enorme influência no meu trabalho e na minha vida, o cinema não é a minha (única) área profissional. Pensando bem, não tenho qualquer área profissional definida, visto que os trabalhos que tenho desenvolvido até agora se desdobram entre várias áreas.
Estou de momento a terminar o meu mestrado em Comunicação Multimédia (ramo de Audiovisual Digital) na Universidade de Aveiro e também em rodagem para o meu projecto mais ambicioso até agora, o documentário sobre as Aldeias de Xisto.
Para além de uma enorme satisfação em apresentar um trabalho de qualidade, espero que este projecto me leve a concretizar outras ideias que tenho desde miúdo, como realizar uma longa-metragem de ficção científica.
É mais fácil terem uma noção de quem sou e o que tenho feito em www.joaopedrocorreia.com.
2. Sendo tu um jovem realizador, que opinião tens sobre o uso do digital no cinema em detrimento da película? Qual vais usar no teu projeto?
Acho que é o caminho lógico a tomar. Por mais nostálgico que o uso da película seja, o digital é bastante mais cativante. Para mim, filmar em película, para além dos constrangimentos financeiros, logísticos, etc., não acrescenta nada que eu não consiga fazer em digital, inclusive obter o grão tão característico da película. Como li algures, é "utilizar um ábaco para navegar na Internet".
3. Acreditas que em Portugal faz-se bom cinema?
Sem dúvida. Penso que a larga maioria dos espectadores não está ciente do que de melhor se faz no nosso país, principalmente devido à aposta das grandes cadeias como a Lusomundo em filmes de estúdio e não no cinema de autor. Mas quem realmente se interessa em conhecer mais arranja sempre forma de ver o que quer.
4. Explica-nos em pormenor o teu projeto que terá como temática as históricas Aldeias de Xisto em Portugal?
Gosto de descrever este projecto como um trabalho em constante mutação, que parte do conceito de Aldeia de Xisto, e vai explorando o que se passa nas Aldeias que vão estar presentes no documentário. Não há uma linha condutora definida, mas sim uma vontade de mostrar estas aldeias, as paisagens em redor das mesmas, e sobretudo, as pessoas que habitam nelas.
Já vi tradições que foram recentemente recuperadas, desabafos em relação a dívidas por saldar, o incómodo do imigrante que, apesar de bem intencionado, foi parar no centro da má língua, e muito mais. Até terminar a edição do documentário será impossível definir uma temática menos abrangente que "Aldeias de Xisto em Portugal". Mas até que nem me desagrada, tenho novas surpresas à minha espera em cada aldeia que visito.
5. Quais foram as razões que te levaram a escolher esse tema?
Querer partilhar com outras pessoas o que é viver numa aldeia. Eu cresci, vivi e ainda vivo numa aldeia. Como vivo no concelho de Arganil, apontei inicialmente o Piódão como o centro do documentário, mas devido à construção peculiar da mesma e de residir no centro da rede das Aldeias do Xisto, alargar a rodagem a outras aldeias pareceu-me ser a decisão mais lógica.
6. Um dos factos que te pode distinguir enquanto alguém que ainda está a começar na área, foi o recurso ao Crowd Funding para conseguires financiamento para o teu projeto! Acreditas que é uma alternativa às fontes de financiamento tradicionais?
Sem dúvida. Se o projecto de Crowd Funding for bem planeado, tiver potencial e demonstrarmos paixão pelo trabalho que pretendemos realizar, certamente não faltará quem esteja interessado em apoiar o projecto, que foi exactamente o que sucedeu no meu caso. Como em qualquer caso, é tudo uma questão de ambição, esforço e um pouco de sorte. Não digo que se recorra apenas ao Crowd Funding para alavancar o projecto, até porque no meu caso recorri também à ajuda da ADXTUR, que gere a rede das Aldeias do Xisto, que me conseguiu oferecer soluções que o "dinheiro não compra".
7. Explica-nos todo o processo para conseguires atingir toda a totalidade monetária e as dificuldades que sentiste?
Criar uma campanha de promoção online através do meu website e várias redes sociais, apostar na qualidade do vídeo que encabeça o projecto, contactar pessoas com grande influência online para me ajudarem a promover o projecto, passar horas e horas agarrado ao telefone a pedir apoios a tudo o que se mexe e nunca descartar uma possível opção de apoio do projecto. E claro, nunca esquecer os nossos entes queridos, amigos, etc., porque se as pessoas mais próximas de ti não acreditarem no teu projecto, quem irá?
8. Sentiste abertura por parte das pessoas em apoiar este tipo de causa? Mesmo tendo elas sempre no final algum tipo de compensação pelo apoio dado?
Sim. Para ser sincero, fiquei surpreendido pela enorme vontade que as pessoas que contactei tinham em me apoiar. Talvez tenha sido pela forma como abordei o projecto ou pela temática do próprio projecto. Mas tive sempre uma reacção positiva em relação ao projecto.
9. Explica-nos a metodologia das compensações para os apoiantes do projeto?
É um processo bastante simples. No meu caso, tinhas 10, 20, 40 ou 50€ que podias doar. Quanto mais doasses, mais contrapartidas terias. Por exemplo, 10€ de doação davam-te acesso ao download do documentário e a estares presente nos créditos do mesmo.
8. E que material é que vais comprar com o dinheiro que conseguiste?
Na altura consegui adquirir um apoio de ombro para suportar o equipamento, um microfone, uma objectiva fisheye de 8mm e um monitor externo para ligar à máquina. Todo este novo equipamento veio acrescentar um novo leque de possibilidades que não estavam ao meu alcance antes das doações chegarem. Contudo, apostei sempre que possível no DIY (Do It Yourself), construindo parte do equipamento que utilizo durante as filmagens, tal como o suporte para o microfone.
9. O Crowd Funding foi a única forma que tiveste para arranjar dinheiro para o projeto?
Sim e não. O Crowdfunding abriu-me as portas para conseguir recolher apoios fora desta iniciativa, mas que provavelmente não teria conseguido sem o alcance da mesma.
11. Que tipo de apoio tens obtido da parte da Universidade de Aveiro?
A enorme paciência e conselhos do meu orientador, todo o material de iluminação presente no documentário e a disponibilização de uma sala para a projecção do documentário na antestreia do mesmo.
12. Para quando está previsto o lançamento do documentário?
Finais de Junho de 2012, mas tal como as diferentes histórias das aldeias, há sempre surpresas inesperadas.
13. Esperas ter reunido no auditório, no dia da estreia, todas as pessoas que apoiaram o projeto?
Não. Algumas das pessoas vivem bastante longe, estando uma a residir fora do nosso país. Mas acredito que não seja por falta de vontade, mas sim pela impossibilidade de se deslocarem a Aveiro.
14. Que palavras gostarias de deixar a essas pessoas?
Como tenho vindo a dizer desde o primeiro dia do projecto de Crowd Funding, obrigado por todo e qualquer apoio. O projecto ganhou novas proporções com a ajuda de pessoas generosas e que apostaram em mim e no meu trabalho. É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido e valorizado. Espero corresponder às expectativas de todos eles, ficaria bastante feliz.
P.S. Como alguns devem ter notado as palavras escritas ora estão escritas com as regras no Novo Acordo Ortográfico e outras não. Isso deve-se apenas a eu já ter aderido e o João não.
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