A euforia dos Óscars anda aí e mais uma vez o prémio desiludiu-me nas suas nomeações ou melhor nas sua não nomeações. Porém Silence (2016) por Martin Scorcese foi nomeado.
À frente disso, gostava de falar do filme que estreou recentemente.
O romance de Endo ocorre num período em que o cristianismo estava gravemente em perigo no Japão. O acolhimento inicial dos missionários estrangeiros pelo Shogunato, que permitiu o estabelecimento de seminários e conversões em massa, foi seguido por uma contestação oficial após a Rebelião de Shimabara (1637-38) e a perseguição de clérigos e leigos.
Frente à ameaça de morte, dois sacerdotes jesuítas recém-chegados de Portugal, Rodrigues e Garupe (interpretados no filme por Andrew Garfield e Adam Driver, respectivamente), entram no Japão para investigar os relatos de que seu mentor, Ferreira (Liam Neeson) Apostatado sob coação. Ali, eles testemunham em primeira mão a fé dos cristãos japoneses - ou a fé fracassada, como no caso de seu guia, Kichijiro (Yosuke Kubozuka) - bem como a perseguição enfrentada pelas mãos do inquisidor Inoue (Issey Ogata), que supervisiona uma cerimonia formalizada de renúncia em que os católicos são convidados a atropelar a imagem esculpida de Cristo.
Baseado na obra literária (que estou a ler) com o mesmo nome e de Shūsaku Endō. É a história de dois padres portugueses que vão para o Japão do século XVII à procura do seu mentor e na procura da verdade sobre a sua possível morte ou não!
Quando chegam lá dão conta de um Japão devastado, fechado sobre si mesmo e onde os Cristãos não podiam existir e são perseguidos pela inquisição japonesa.
As actividades de evangelização foram iniciadas em 1549, um dos primeiros a chegar foi Francisco Xavier e depressa no tempo, cerca de 300 mil japoneses tinham-se convertido.
Porém, o poder da altura começou a ver o papel dos missionários como ameaçador, porque eles acreditavam mais nas palavras, opiniões do Papa, para tomar as suas decisões do que em si próprios.
Nesse sentido foi banido do território japonês todo e qualquer sinal cristão. E a sua celebração era completamente proibida, dando assim origem aos Cristão Escondidos (kakure kirishitan). São estes que os dois missionários encontram e com eles começa toda uma busca pela fé.
De alguma forma o que tentei escrever foi a sinopse do filme. Mas na verdade mais pode ser dito. Tenho quase a certeza que li em qualquer lado que Scorcese demorou 28 anos a realizar este filme. O livro foi escrito em 1966 e pelos vistos fez parte da lista de Scorcese e daí a sua adaptação ao cinema.
No seu todo, temos uma obra poética sobre a procura de nós mesmos. A necessidade de acreditar no ser superior para pensarmos que a nossa existência tem mais noticiabilidade. Mas o existencialismo vai na percepção do que podemos encontrar na luz ou nas trevas. Traçando uma análise que acreditar é uma decisão que manifesta na realidade em silêncio. Pois se pensarmos bem, mesmo para aqueles que acreditam, deus nunca falou com ninguém pessoalmente e que esteja vivo.
A verdade é que este filme ganha mais sabor por estar de alguma forma inserida no melhor momento da História portuguesa.
Nós descobrimos o mundo, com outros, principalmente espanhóis e holandeses. Tentamos daí evangelizar a palavra de deus em território desconhecido.
Durante o filme ouvimos algumas palavras em português que em pronuncia anglo saxônica não cai muito bem, mas é assim.
Nós não temos que olhar duro para encontrar em Silence, que se une a The Last Temptation of Christ (1988) e Kundun (1997) no subconjunto de filmes de Scorsese que falam explicitamente sobre as variedades da experiência religiosa.
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