quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A Inteligência Artificial e os Dados. Evolução ou Manipulação?

O assunto não é de todo um daqueles que consiga a atenção das massas. Pois está a entrar no nosso quotidiano ainda de forma subliminar. Porém, para mim tem sido razão de reflexão nestes últimos dias. Acerca dele já escrevi bastante aqui no blog.

Porém, como sempre, não despolpou qualquer interesse nas pessoas que possam, supostamente, ler este blog. Mas também isso não interessa para nada.

Mesmo assim, sinto uma necessidade inata de analisar os meus pensamentos sobre este assunto e o que tem vindo ao meu conhecimento sobre o mesmo.

Concretamente estou a falar da Inteligência artificial (AI) e como esta tecnologia está a ter impacto nas sociedades do todo mundo, com ênfase na arte. Porém este post vai distanciar-se um pouco desse assunto e vai alinhar-se numa perspectiva mais geral.





Ontem houveram alguns artigos de jornais de referência mundial.  Publicaram notícias sobre o assunto em questão. O The Guardian num artigo menciona que em Junho do ano passado cinco pesquisadores da unidade de Inteligência Artificial do Facebook publicaram um artigo demonstrando como os bots podem simular conversas semelhantes a negociações.

Passado um mês após essa pesquisa a Fast Company publicou um artigo intitulado AI Is Inventing Language Humans Can’t Understand. Should We Stop It?.  O artigo tornou-se viral e o mesmo insinuava que as máquinas estavam a criar uma nova linguagem entre si. A proporção de tal suposição levou mesmo os investigadores a desligarem as máquinas, dando a impressão que elas estavam fora de controlo. Porém, a decisão foi tardia e o artigo tornou-se viral e outros meios famintos por noticias promoveram ainda mais essa narrativa.

Zachary Lipton, professor assistente do departamento de aprendizagem de AI da Carnegie Mellon University, assistiu com frustração à história transformar-se de “pesquisa interessante” em “porcaria sensacionalista”.

O que esta história em concreto nos prova é que deve haver um distanciamento bem alargado sobre o que realmente interessa e o depósito que não tem interesse nenhum no estudo científico da IA. Porque se os media começam a noticiar estas novas descobertas como um qualquer monstro Frankstein o problema das Fake News pode tomar proporções apocalípticas.


Por isso mesmo tem que haver um bom entendimento entre o que é IA e o que é o Deep Learning. Podemos assumir a aprendizagem aprofundada como um sub sector da IA. Que basicamente consiste em que as máquinas sejam capazes de aprender sozinhas. 

Contudo, atualmente isso só é possível porque existe a inserção de dados (milhões de terabytes) que permitem à máquina, depois de muitas tentativas falhadas, chegar a uma conclusão concreta e que corresponda há realidade. 

Pode ser um assunto complicado para não-especialistas, e as pessoas muitas vezes confundem erroneamente a inteligência artificial contemporânea com a versão com a qual estão mais familiarizados: uma visão científica de um computador consciente, muitas vezes mais inteligente que um humano. 

Os especialistas referem-se a essa instância específica da inteligência artificial como inteligência geral artificial e, se criarmos algo assim, provavelmente será um longo caminho no futuro. Até então, ninguém é ajudado por exagerar a inteligência ou as capacidades dos sistemas de inteligência artificial.




O entusiasmo sobre a IA é exagerado neste momento. E muito longe está o tempo em que esta tecnologia seja capaz de gerir a nossa vida. Os principais avanços podem demonstrar que a inteligência desta ferramenta esteja ao nível da inteligência humana. Os principais avanços têm a capacidade de deslumbrar o público, mas um novo relatório atesta que isso ainda está longe de ser verdade. 

Os estudos na área apontam que a IA nos próximos anos vai modificar muito as economias mundiais, mas o que realmente foi alcançado a nível de evolução está restringido há classificação de imagens e reconhecimento de voz. Porém, não podem adaptar-se muito se a natureza dos dados mudar ou se analisarem algo completamente desconhecido.

Através de entrevistas com os principais especialistas em IA, o relatório também tenta identificar áreas-chave onde o progresso ainda é necessário. Vários apontam para a necessidade de enormes quantidades de dados para treinar sistemas atuais de IA, e para a sua incapacidade de generalizar sobre a solução de uma variedade de problemas. E aqui reside a questão chave sobre todo o uso que a IA pode ter na forma como existimos. A inserção de dados e a forma como eles são utilizados já é de forma flagrante um problema que as grandes corporações de tecnologia, como a Google ou Facebook se têm debatido nos últimos tempos.

O escândalo da Cambridge Analytica também ilustra onde o teórico utilitarista teria se oposto às práticas do Facebook. Ser descuidado com a maneira como os dados dos utilizadores são compartilhados com terceiros é uma coisa. Mas a tentativa de traçar psicologicamente os usuários do Facebook para apresentar cada um deles com o conteúdo mais provável de influenciar a votação vai além de apenas melhorar a publicidade, para uma forma de manipulação que ameaça o que o liberalismo mais se preocupa: a liberdade do indivíduo.

Alguns escritores de tecnologia, como o historiador israelense Yuval Noah Harari, chegaram a ver o poder do Facebook capaz de manipular o  nosso comportamento como uma confirmação de que o livre-arbítrio é uma ilusão. Essa é uma conclusão extrema a ser tirada do escândalo da Cambridge Analytica, mas devemos ter uma profunda preocupação com as possíveis maneiras pelas quais o Facebook pode estar a minar a nossa autonomia. 

Nesse sentido, se a IA ainda carece da inserção de dados para poder ser denominada de inteligente! Onde é que entra a capacidade de empresas como a Google ou Facebook, que têm uma infinita base de dados, manipular a IA com esses mesmos dados e daí serem capazes de manipular o livre arbítrio de cada indivíduo? Mais, onde pode chegar o poder destas empresas com ajuda do deep learning? 

São perguntas que cada um de nós devia fazer de forma introspectiva. Porque se longe está o tempo em que uma máquina vai ter capacidade de decidir por si mesma. Vivemos o tempo em que os dados e quem mais tem acesso a eles tem o poder absoluto. 


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