Tyrannosaur (2011) é candidato a melhor filme do ano, mais não seja porque foi o grande vencedor dos prémios British Independent Film Awards (BIFA). Além do prémio de melhor filme, Olivia Colman arrecadou o prémio de melhor atriz. Criados em 1998, premeia o que melhor se faz em cinema britânico fora dos normais circuitos da indústria. Procura dar a conhecer o que é feito de forma indie e no ano passado o Discurso do Rei (2010) foi o grande vencedor, que acabou por vencer também o Óscar de melhor filme.
O filme foi realizado por Paddy Considine, que é mais conhecido em participações em filmes como The Bourne Ultimatum (2007), 24 Hour Party People (2002) e Hot Fuzz (2007).
Na sua segunda aventura cinematográfica, Considine apresenta-nos um filme dramático, intenso, real, simbólico e impaciente. Por ventura, um candidato a melhor filme do ano. E as razões que me levam a acreditar nisso está no conteúdo do próprio filme. Claro que nada melhor que o ver para se ter uma opinião mais concreta sobre aquele argumento e perceber claramente se justifica o que escrevi.
O que é mais intrigante é que é um realizador que não tem muita experiência na realização de filmes, mas tem muita experiência em atuar em filmes. O primeiro facto pode ser notado, na minha opinião, ao nível da fotografia: nota-se um descuido, uma falta de atenção normal quando esse não é o foco da atenção de quem está a realizar.
Pelo contrário, em segundo facto, temos um filme com um argumento e enredo emocionantes e arrepiantes em algumas sequências e um cuidado concessivo com a performance. Temos a capacidade de nos surpreender através de gaps intensos e contraditórios. Isto poderá ser a prova que a pessoa e o seu estilo tem muito a ver com a sua experiência. E a experiência de Considine é enquanto ator e não realizador.
No seu todo, o filme é um reflexo do lado negado da sociedade. O lado da violência e da auto-destruição da condição humana. O lado em que se toca a ténue linha frágil que separa a racionalidade da loucura. O lado que existe dentro das paredes dos ninhos familiares e, quando trespassados para o exterior, é sempre a aparência de papéis hipócritas baseados em aparências. Com uma estética pura e dura, sem preocupação de sensibilizar os mais sensíveis, o filme é a entrada cinematográfica e a representação da realidade existente em muitas casas deste mundo. Casas onde existe a violência e apenas se cinge a ser doméstica.
Por outro lado, o filme também demonstra aquilo que muitas vezes está latente em pessoas que são ignoradas pela sociedade. Ou porque são vagabundos, ou porque são bêbados, ou porque são individualistas essas pessoas não têm valor. São considerados inúteis e dispensáveis, no entanto são pessoas que têm sentimentos e, a maior parte das vezes, são apenas incompreendidos.
Em suma, a estória do filme é de um homem extremamente agressivo e auto-destrutivo que descobre novamente o amor através da violência que uma mulher sofre dentro de quatro paredes. A forma como esta narrativa nos é mostrada é soberba e é a caraterística de maior qualidade do filme.
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