quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Viagem à volta da Terra em um dia

Recordo-me de escrever sobre o projeto num post aqui no Blogue. Desde aí houve sempre uma memória que despertava o meu interesse sobre o resultado final deste projeto. O tempo foi passando e a oportunidade havia de surgir quando menos esperava. 
Acabei por ver o filme, que está totalmente disponível de forma gratuita no site oficial, Life in a Day (2011); no momento em que a vontade de viajar se tornou mais presente. 


O filme foi realizado por Kevin Macdonald e produzido pelos irmãos Ridley Scott e Tony Scott. Teve estreia no festival Sundance, mas passou também por Berlinale (Panorama Special), True/False, Transilvania (Unirii Square), Melbourne (Networked), Karlovy Vary (Another View). Recorreu ao conceito de crowdsoourcing para angariar footage necessária para a montagem. Esta teve como base final cerca de 4500 horas de vídeo de mais de 190 países. 


Analisando a obra, podemos concluir no final que este é um objeto sem qualquer tabu, forma ou estrutura. A sua totalidade foi a criatividade de milhares de pessoas, que aproveitaram a sua rotina diária, para participar em algo que queriam fazer parte. É uma viagem brilhante! Por momentos, parece que percorremos o planeta terra num único dia e esse foi o 24 de Julho de 2010. A variedade de captações, de histórias, de culturas, de momentos, de contextos e pessoas é mote de sonhar em ultrapassar os limites em que estamos limitados.
A narrativa começa de manhã, que é quando o sol nasce. Percorre o interior de casas e o exterior de ruas. Vemos pessoas acordar, outras a cortar a barba, outras a urinar e outras a filmar o interior de um elevador. 
Quase como à velocidade da luz, somos capazes de saltar de continente para continente e sempre que chegamos a um novo destino, não sentimos a estranheza do desconhecido. Pelo contrário, parece que fazemos todos parte desta aldeia global e, que mesmo a milhares de quilómetros, as pessoas que moram em determinado sítio são nossas vizinhas.


Uma outra componente do filme é a sua multiplicidade de culturas. Que já sabemos que existem no mundo inteiro, mas esta é uma prova de como as pessoas são influenciadas por elas. Na sua personalidade, nos seus afazeres, na sua rotina, nos acontecimentos tristes e alegres da vida. 
Enquanto um rapaz reza à mãe que morreu, vemos um pai a desmaiar enquanto olha a sua mulher a dar à luz uma nova vida e assistimos a  um rapaz com pouco mais de 6 anos a engraxar sapatos e o seu maior tesouro é um computador portátil tipo o Magalhães. Mas tudo isto se passa em países diferentes, logo com culturas diferentes. 
Enquanto entramos dentro da obra, deixamos que as suas imagens nos hipnotizem e quase como por magia, somos capazes de sentir que estamos naquele lugar. Mas também existe a soundtrack que funciona muito bem como abstração ao pensamento de estarmos presos a um lugar e queremos viajar para outro. Falo por exemplo, das três mulheres angolanas que cantam e esmagam uma semente, creio que para fazer farinha, sentadas no chão. Mas o som que sai das suas bocas, e enquanto batem com o instrumento no chão, é quase como um concerto de luta pela sobrevivência.
Concluindo, temos aqui uma obra que entra num formato de documentário sem guião, argumento e narrativa multi-linear. Podemos pensar, por exemplo, nos primórdios do cinema onde o cinematógrafo dos irmãos Lumière era colocado de forma estática e apenas filmava o que se passava na rua ou noutro qualquer contexto. Neste objeto, a ideia foi levada um pouco mais longe! A escrita do guião foi responsabilidade dos próprios intervenientes. Por isso é um filme de improviso, imaginação e criatividade e recorrendo a material de baixo custo para a captação. Algo só possível com evolução da tecnologia. Finalizando, não devemos esquecer que o segredo do filme é a montagem e seleção das cenas que foram montadas estruturalmente de uma forma temporal, isto é, um dia na vida na Terra.

Sem comentários:

Reaprender

 Nunca é fácil quando conhecemos uma pessoa. Principalmente se por essa pessoa começarmos a sentir sentimentos.  É uma roda viva de emoções ...