Fazer cinema não é só tentar representar o mundo. Fazer cinema consiste mais em perceber o mundo, ou em palavras mais cinematográficas, perceber a realidade. Esta tarefa pode-se executar de duas formas: a primeira é deixar que a assimilação seja feita pelo senso-comum, ou então, de uma segunda maneira, interrogar-nos sobre aquilo que parece evidente, questionar o senso-comum.
Esta segunda questão prende-se em perceber como funciona os elementos naturais e como estes podem ajudar na construção de obras de arte. Mais concretamente quero falar da luz e do seu papel no cinema.
Esta segunda questão prende-se em perceber como funciona os elementos naturais e como estes podem ajudar na construção de obras de arte. Mais concretamente quero falar da luz e do seu papel no cinema.
A luz é uma forma de energia. Pode ser natural ou artificialmente transformada em outras formas de energia: calorífera; química, eléctrica e mecânica. Os efeitos da luz podem ser fotoquímicos, fotoeléctricos ou fototérmicos.
A palavra “fotografia” é a conjugação de dois outros termos: “foto” (luz) e “grafia” (escrita). Assim, podemos dizer que a fotografia é a escrita da luz. Podemos considerar dois processos fundamentais no uso da fotografia no contexto audiovisual: a fotografia em filme e a fotografia digital. No primeiro estamos a falar de um processo de conseguir imagens pela exposição de matérias sensíveis à reacção química da luz, por exemplo a película e a emulsão. No segundo, trata-se de um processo de conseguir imagens pela exposição de matérias sensíveis à reacção eléctrica da luz, por exemplo sensores, CCD e CMOS.
Dentro de um mesmo meio, a luz propaga-se em linhas rectas, propagação rectilínea. Contudo, quando a luz bate num outro meio de propagação pode ser reflectida, isto é, atirada novamente; transmitida, isto é, propaga-se através do novo meio determinado pelo ângulo de incidência e as densidades e, por último, absorvida, isto é, transforma-se em outra forma de energia, calor por exemplo.
A intensidade de uma fonte luminosa pode ser medida pela sua incidência ou reflexão numa superfície. Por outras palavras, podemos dizer que a intensidade luminosa é um sistema de unidades pela qual a luz emitida por uma fonte é medida por comparação com uma fonte conhecida (candela, candle). A unidade de iluminação no sistema métrico é o lux que é definida como a luz de uma superfície em que todos os pontos estejam a 1 metro de distância de uma fonte de luz uniforme de 1 candela.
A intensidade luminosa que incide sobre uma superfície luminosa depende de quatro factores: da intensidade luminosa da fonte; no caso de uma lâmpada, do sistema óptico empregue; da distância entre a luz e a superfície e, por último, da absorção do meio por onde se propaga, por exemplo pelo ar, nevoeiro, bruma e fumo.
A luminância é a medida da luz reflectida de uma determinada superfície e depende também de quatro factores: da intensidade da luz incidente; da capacidade de reflexão da superfície, da forma como a reflexão se processa: pode ser difusa ou especular e, por último, tratando-se de reflexão especular, do ângulo de onde a medição é feita.
Um fotómetro é o aparelho que serve para medir a luz, incidente ou reflectida. Para medirmos a luz incidente, colocamo-nos na posição do objecto iluminado e apontamos para a câmara. Para medirmos a luz reflectida (luminância), apontamos o fotómetro para a superfície iluminada, não podemos esquecer que neste caso o ângulo da medição influencia os valores.
A continuidade no aspecto fotográfico de um “décor” ou cenário é obtida à custa de três princípios relacionados com a luz: Primeiro o valor do diafragma deve ser constante; segundo, o rácio de luz ou a razão de luz (lightratio) também deve ser constante, por último, a direcção da luz também tem que ser constante. Todavia, não podemos esquecer que existem outros princípios que não estão directamente relacionados com a luz.
A razão de luz (lightratio) é determinada pela relação entre a luz principal e a luz das sombras: a intensidade da luz é primeiro medida com ambas ligadas e depois mede-se apenas a luz das sombras; as duas leituras são comparadas e a diferença é a razão de luz. Esta não deve ser excessiva: varia consoante se trate de filme ou vídeo.
Luz principal: key light
É a principal fonte de luz que ilumina tipicamente o sujeito de cima ou de frente. Ao ar livre a luz principal é o sol.
Luz de enchimento: fill light
Uma fonte de luz que ilumina tipicamente um sujeito de lado a fim de eliminar as sombras e completar a luz principal (Key light).
Luz de Recorte: Back light/Hair light
Uma fonte de luz que ilumina um sujeito por trás a fim de o separar do fundo e criar mais profundidade na cena visual.
Luz de Fundo: Background Light.
A fonte de luz para iluminar o fundo de uma cena visual.
Num próximo post tentarei olhar para outras funcionalidades que a iluminação tem no cinema, nomeadamente com a ajuda de David Bordwell, um dos principais gurus da análise da arte cinematográfica.
Num próximo post tentarei olhar para outras funcionalidades que a iluminação tem no cinema, nomeadamente com a ajuda de David Bordwell, um dos principais gurus da análise da arte cinematográfica.
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