Quando o vi, não o considerei o filme de 2010. Aliás, a percepção e fruição que tive na altura foi registado em texto no MUBI em que demonstrei isso claramente. A 24 de Julho de 2010 escrevi: Do universo freudiano chega-nos a matriz dos sonhos. Um mundo de camadas: o consciente, o subconsciente e o inconsciente. Um mundo onde somos arquitectos da nossa realidade, mas o mundo dos sonhos não é o mundo real. Leonardo Di Caprio mais uma vez entre esses dois mundos depois de Shutter Island de Scorcese. A narrativa cola-nos à cadeira num enredo estonteante, mas não é o filme do ano.
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Contudo, tive a oportunidade de ler mais um post de Nelson Zagalo que fala de Inception da seguinte maneira, mas que no entanto não mudou a minha opinião.
Inception supera em complexidade Memento, aliás algumas críticas chegam a fazer referência ao facto de o filme conseguir levar-nos a acreditar em algo que não estamos sequer a compreender. Ou seja, não percebemos concretamente tudo o que está a acontecer, mas parece plausível, faz sentido e queremos acreditar. No fundo a história subjacente ao filme deixa de ser relevante e passamos a ser transportados apenas pela narrativa.
No entanto, foi através daquele post que fiquei a saber da tentativa de vários indivíduos para clarificar a história e narrativa de Inception. Como este que Zagalo apresentou feito por Weikang Sun, estudante de Engenharia Química na Stanford University. O vídeo, segundo Zagalo, mostra uma reconstrução "narrativa" para que esta se aproxime da "história". os eventos deixam de ser mostrados em sucedâneo e passam a ser mostrados em paralelo, ou seja da forma como ocorrem cronologicamente.
E no dia que veio à tona a notícia da morte de Peter Postlethwaite, um actor discreto, mas que se fez notar por grandes papéis como em In the Name of the Father (1993) e mais recentemente em Inception. Voltei a recordar-me do filme de Cristopher Nolan. Muito sinceramente o que estava em causa no raciocínio era a narrativa do filme, como este se enquadra com a história e, principalmente, o porquê de ser visto pela maioria das críticas que li, o filme de 2010. Nesse sentido lembrei-me de um post que já algum tempo já aqui tinha escrito que falava sobre Narratalogia.
O que esta imagem fala é sobre o ponto de vista do narrador. Como se consegue ver, temos uma parte do real que é percepcionável, outra que é a parte do real percepcionável - uma delimitação temática e espacial (visual e sonora). Basicamente é o ecrã de cinema, a parte onde as imagens em movimento são projectadas, que é constituída pelos elementos visuais e sonoros que os olhos e ouvidos conseguem assimilar.
Depois temos o olhar intelectivo ou ideológico, que assume as funções comunicativas e estética. Em seguida o olhar de eleição (físico ou percepcionável), que assume a forma de enquadramento, forma e conteúdo. Dito de outra forma, é o ponto de vista do realizador que ganha vida com a câmara de filmar através da construção e montagem da totalidade dos elementos utilizados, que no fim dá aquilo que conhecemos como cinema. Torna-se mais fácil perceber a imagem se parar-mos algum tempo a olhar para ela. Para isso basta carregar em cima para obtermos uma nova janela com mais resolução.
Em suma, o que quero demonstrar é que Nolan utilizou este processo na produção do filme e, com isso, tornar mais claro toda a técnica subjacente. Por isso, nada melhor que ver o rascunho que Nolan fez para Inception enquanto construía a sua história e narrativa.
O que esta imagem fala é sobre o ponto de vista do narrador. Como se consegue ver, temos uma parte do real que é percepcionável, outra que é a parte do real percepcionável - uma delimitação temática e espacial (visual e sonora). Basicamente é o ecrã de cinema, a parte onde as imagens em movimento são projectadas, que é constituída pelos elementos visuais e sonoros que os olhos e ouvidos conseguem assimilar.
Depois temos o olhar intelectivo ou ideológico, que assume as funções comunicativas e estética. Em seguida o olhar de eleição (físico ou percepcionável), que assume a forma de enquadramento, forma e conteúdo. Dito de outra forma, é o ponto de vista do realizador que ganha vida com a câmara de filmar através da construção e montagem da totalidade dos elementos utilizados, que no fim dá aquilo que conhecemos como cinema. Torna-se mais fácil perceber a imagem se parar-mos algum tempo a olhar para ela. Para isso basta carregar em cima para obtermos uma nova janela com mais resolução.
Em suma, o que quero demonstrar é que Nolan utilizou este processo na produção do filme e, com isso, tornar mais claro toda a técnica subjacente. Por isso, nada melhor que ver o rascunho que Nolan fez para Inception enquanto construía a sua história e narrativa.
Esta imagem foi conseguida no blogue incontention, mais precisamente por Kristopher Tapley que adquiriu o formato Blu-Ray. Depois Tapley digitalizou uma entrevista feita pelo irmão de Cristopher Nolan, Jonathan Nolan, acerca da película e que pode ser vista na integra aqui.
Enquanto lia a entrevista fui percebendo mais claramente o processo de pré-produção, produção e pós-produção do filme. Percebi que Nolan demorou cerca de dez anos a realizar um filme onde pudesse fundir os conceitos de espionagem corporativa e os sonhos. Que no seu ponto de vista, a mudança de atitude de uma pessoa começa no cérebro e que foi estas, e apenas estas, razões que Nolan teve o seu ponto de vista enquanto narrador. Por todas estas razões que apontei em cima, mas principalmente pelo ponto de vista de Nolan enquanto narrador, a minha opinião acerca do filme realmente mudou e, por essa razão, considero-o, agora, o filme do ano. O próprio Nolan, na entrevista, fala das diferenças entre Inception e Memento (2000), analisando a tarefa de escrever e realizar o guião, sendo que Memento foi uma adaptação e em Inception foi uma ideia de ele próprio.
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