O filme com mais nomeações (12) para os Óscares tem como pano fundo a "época de ouro" da rádio que foi os inícios do século XX. A rádio foi a tecnologia da tribo que resgatou o sentido de comunidade.
The King's Speech (2010) engana no cerne do seu foco argumentativo. Para aqueles que olham para a narrativa e apenas se concentram na história do rei que era gago e procurou ajuda para melhorar a sua doença, enganam-se redondamente sobre a mensagem que Tom Hooper quer emitir. O realizador ao longo do filme e no climax desperta o espetador para a importância da rádio em duas vertentes distintas, mas que se complementam ao analisarmos aquele período da história.
Por um lado, através do mis en scene, nomeadamente através da cenografia, percebe-se que há um suporte de comunicação que se destaca e contribui para a vergonha da oralidade do personagem rei George ‘Bertie’ VI (Colin Firth).
Nos anos 20 e 30 do século passado a rádio era escutada através de recetores grandes e caros, por um grupo restrito e erudito da população. É nessas décadas que a rádio se transforma numa empresa, inclusive por causa da publicidade que transforma a estrutura radiofónica. Mas é também quando a rádio se torna mais popular; que o Estado começa a intervir como regulador na atribuição de frequências e se descobre a mais eficaz receita para fixar audiências, facto bem visível no desenlace do filme.
Porém, e por outro lado, na II Guerra Mundial, a rádio começa a ser utilizada como instrumento do poder e usada em todas as suas potencialidades: como arma de propaganda; como veículo de manipulação e intoxicação e como fonte quase única de informação. A rádio afirma-se como principal meio de comunicação, mas também como principal instrumento manipulador dos Estados.
Em suma, o que o filme representa é a dicotomia da rádio na sua "época de ouro". A ela se deu uma utilização sombria e manipuladora, mas também social e familiar.
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