quinta-feira, 23 de março de 2017

Attack on TItan

Attack on Titan (Shingeki no Kyojin) (2009) é uma série de manga criada e ilustrada por Hajime Isayama. Posteriormente deu origem a uma série de televisão de animação realizado por Tetsuro Araki (Death Note). Conta neste momento com duas temporadas, sendo que a segunda estreou em 2017. 

O meu interesse começou há uns tempos depois de visto um filme adaptado da série. Depois uma leituras na imprensa da especialidade até à vontade de ver as duas temporadas. Coisa que acabei de fazer recentemente. 

De um modo geral a anime é muito boa, com uma narrativa interessante e uma forma de storytelling muito na senda de um triller onde ao final da segunda temporada ainda há muitas dúvidas por desvendar. 



Todo o universo criado passa-se no futuro onde a humanidade tem que combater com uns seres que chamam de Titãs. A origem destes é um mistério para toda a raça humana que agora tem que viver por detrás de muros bem altos para manter aqueles monstros do lado de fora. 
A tecnologia que existe na altura não é muito avançada, então os soldados que combatem os gigantes usam um dispositivo de cabos 3D que lhes permitem "voar" e acertar golpes decisivos nos monstros.




Resumindo, esta série de anime alcançou um sucesso mundial, principalmente nos E.U.A e embora apenas esteja ainda na segunda temporada, prevejo ainda muito sucesso pela frente.

Além do desenho com um traço original. Temos uma série que sabe focar bem a emoção humana, construindo para isso em quase todos os episódios empatia entre as personagens principais e secundárias. 

Mas mesmo aquelas segundas, conseguem ter um papel de destaque. Isto é, há alguns episódios em que percebemos que os criadores na série querem passar um sentimento de humanidade na luta pela sua sobrevivência. Nem que para isso as pessoas que se uniram em combate tenham que morrer. 
A forma como essas mortes acontecem é que fazem a experiência de empatia crescer entre espetador e personagem. Porque normalmente as mortes acontecem em grandes batalhas entre os Titãs e os humanos. Este é um dos aspetos mais positivos a tirar destas duas primeiras temporadas. Contudo existem outras, mas não quero expôr tudo aqui.

segunda-feira, 6 de março de 2017

A árvore de Natal na Casa de Cristo

Este conto foi escrito em 1876 por Fyodor Dostoyevsky, o grande escritor russo. Na verdade apenas ainda o conheço pelo nome, ou seja, ainda não li nenhuma grande obra do autor.
Porém na minha pesquisa encontrei este pequeno conto de Natal escrito por ele e lá o li. 



É um conto triste sobre uma criança que vive na rua e os acontecimentos que lhe sucedem no tempo de Natal. Ao contrário da maioria - pelo menos quem celebra esse dia segundo a religião católica e capitalista - Dostoyevsky escreve com muito detalhe sobre esta criança que não tem os luxos de uma família que lhe proporcione, conforto, ternura, mimo.

Mais uma vez é apenas um conto de Natal, mas não tem alegria, paz ou misericórdia. A meu ver é a forma de o autor descontruir o modelo cor de rosa de Natal e realmente dizer que mesmo nesse tempo ainda há crianças a viver na rua. Crianças que morrem todos os dias nessas ruas de causas como a fome ou mesmo assassinadas. 

Enquanto lia, foram aquelas as ideias que me ocorreram. Embora escrito em 1876, é incrível como o autor consegue criar todo um ambiente grotesco em tão pouco espaço de literatura.  
Por outro lado, considero que serve perfeitamente como introdução a um dos maiores escritores russos. 

sexta-feira, 3 de março de 2017

Taboo

A série Taboo estreou no passado dia 26 de Fevereiro na AMC Portugal. E já tem dado que falar e nem tudo é positivo. Um artigo no The Guardian menciona de ser uma frustração ao ser assistido.
Mas também afirma que a história de Tom Hardy sobre o voodoo, o incesto e a regulamentação comercial na costa oeste canadense tem sido descrita como emocionante, visceral. 

Tudo isso ajuda a tornar o Taboo algo distinto - não  é uma tarefa fácil na paisagem saturada de televisão de hoje. Ao mesmo tempo, é provavelmente melhor apreciado sem realmente tentar compreendê-lo. 






Taboo parece ser uma obra da criação da mente de Tom Hardy, em que Ridley Scott mete o olho e acabamos por ter uma obra cativante especialmente pela direção de arte. Mas também é uma série com um tema forte e complicado. 

Como referi aqui estreou no AMC a 26 de Fevereiro, mas a produção é da BBC One e lá já passaram os 8 episódios que compõem esta série.
A história é de James Delaney's que após bastante tempo considerado morto, chega cheio de rumores para o funeral do pai que foi assassinado.  Ele é um personagem mudado que passou os últimos anos em África depois de ter sobrevivido a um naufrágio em que foi obrigado a fechar os escravos em jaulas para eles morrerem. Tudo isto por causa do Stuart Strange, Presidente da "honrável" East India Company.





Na verdade não é fácil de gostar de Taboo. A história pode não ser compreendida, e daí ter críticas negativas. Mas também há as positivas e nesse aspecto concordo com um outro artigo do The Guardian que fala como esta série foge um bocado ao padrão utilizado nos últimos anos em séries inglesas. 

De qualquer das formas, Taboo é uma série a ter em conta para os próximos tempos. Assim, talvez como Vikings no canal História consiga uma massa de fãs que acompanhem a série ao longo de várias temporadas.

No meu ponto pessoal o que mais adoro na série é mesmo a direcção de arte. Fenomenal e mais que enquadrada com a época. Mas também gosto do ambiente noir. James. Uma pessoa perturbada na tenra idade, mudado por actos horríveis, agarrado à superstição, porém um homem altamente inteligente.
Creio que se pode criar uma empatia com Tom Hardy como se criou em Mad Max que eu até considerei o filme de 2015.

A série é composta também por ideias fortes, nomeadamente políticas. Entre o Principe Regente. Uma pessoa apenas com interesse pessoal, nota-se um contraste entre a realidade e a ficção já que o seu pai na realidade nunca foi considerado inadequado para governar.
Aqui é uma jogada de Tom Hardy e toda a sua equipa na criação de uma obra única, ou seja, manipulação dos factos para criação do seu mundo.

É uma série muito pessoal, que não saiu só da cabeça de Tom Hardy, mas este assume-se como a cabeça da série. 
O toque de Ridley Scott nota-se de uma forma presente, ao contrário de outras séries em que a Scottfree tem participado. 
Independentemente disso, esta série vai ser incompreendida pelos media, mas conseguirá criar uma legião de fãs.  A mim já conseguiu. Espero pela segunda temporada. 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

O Avant Gard de Lars Von Trier

Lars Von Trier é um realizador dinamarquês, neste momento com 60 anos, e tem cerca de 30 como realizador. Os seus filmes marcam-se por ser pertubadores, impactantes, que procura horrorizar o espetador.
O que Von Trier procura com a sua cinematografia é realmente que as pessoas que visionam os seus filmes, possam argumentar que realmente o viram, nem que esse argumento seja negativo. 
A sua carreira  já é longa, e é marcada pela criação do Dogma 95, vários filmes que ganham destaque pela inovação, como Dogville (20003) e uma passagem por Cannes marcada por declarações a denotar uma compreensão por Hitler seguido por um massacre pelos meios de comunicação social. 



Fora tudo isso, Von Trier é um realizador pós-modernista que sabe utilizar os recursos disponíveis na forma de escrever cinema e leva essa linguagem ao limite. É marcado por um profundo conhecimento na forma de realizar e também uma variedade de marcas, detalhes que marcam a sua estética pessoal de uma forma de que eu chamaria de poesia cinematográfica. 
São pequenos detalhes reconhecidos na iluminação, na coloração, nos movimentos da câmara, ou seja, tecer, laborar o produto de forma perfeita, neste caso os seus filmes. 
Sobre esta questão Lewis Bond fez um excelente ensaio denominado Lars Von Trier - Deconstructing Cinema" (2003)  em que explica muito bem toda a obra de Von Trier nos últimos 30 anos.



De forma mais pessoal, quero falar da Trilogia da Depressão de Lars Von Trier. Do seu conteúdo fazem parte os filmes Melancholia (2011) onde Lars Von Trier explora novamente os receios humanos e o grotesco de uma forma visceral. A loucura como sanidade, num filme característico de um nome que marca indubitavelmente o cinema contemporâneo com a sua genialidade (in)sana. 
Anthichrist (2009), um filme com introspecção corpo e alma. Os demónios que nos atormentam no sofrimento dos acontecimentos sofríveis. Uma visão sobre o lado negro da loucura que no seu auge cria a parte mais negra da vida. Mais uma vez Lars Von Trier na sua particularidade existencialista. E finalmente termina com o bipartido Nymphomaniac (2013). 



A ordem com que expus os filmes foi puramente aleatória, até porque acabei de ver a pouco o último e daí este post. Que começou por ser apenas uma análise ao filme, mas expandiu-se em algo mais. 
O nome Trilogia da Depressão foi o próprio Von Trier que intitulou. E são sobre tabus, refinamento social causado por incompreensão das massas. 
A doença da depressão é um tabu na sociedade, assim como é a ninfomania. Pessoas que têm, chamarei de fetiche, vivem isolados. Agrupados em pequenas minorias que a sociedade afasta. O que o escritor dinamarquês faz é dar voz a esses.

O auge de Nymphomaniac é mesmo na forma como provoca. É o climax da triologia, onde a emoção é agarrada de forma horrífica. Mas também temos poesia distópica onde um diálogo de sexo assume contornos de analogia com paradigmas como a sequência de Fibonacci, a música clássica de Mozart e a literatura de Edgar Alan Poe. Misturado com uma banalização do sexo, imagens pornográficas - embora ele tenha utilizados próteses e atrizes porno - a um desejo obsessivo por sexo.

É mais uma vez um ponto de vista muito pessoal do realizador, mas ao contrário dos outros dois filmes que se foca mais num cuidado com a fotografia, a iluminação e a cor.
Este centra-se em diálogos eruditos de uma mistura entre conhecimento e empirismo sexual alterado. 
Von Trier com esta obra assume-se como um dos mais importantes realizadores modernos. Se o tivesse de comparar a alguém, talvez o compara-se a Philip Roth. São ambos pós modernistas avant gard que através de duas formas de arte diferente ferem a nossa cultura.    

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O Anexo Secreto

Se Anne Frank pudesse alcançar a fama que desejou alcançar com a escrita, talvez pudesse analisar o único livro que ela escreveu de outra forma. 
O Diário de Anne Frank  ou Het Achterhuis (Anexo Secreto) é realmente uma obra sobre a estupidez humana, mas não faz por isso que seja uma obra de literatura, é um diário escrito por uma criança que sofreu muito com a estupidez humana.





Eu não retiro importância ao livro, diário, como um documento pessoal e particular de um período negro da nossa história. Uma forma de registar integralmente o sofrimento puro e duro de uma criança, que por causa da guerra tem que viver com a família escondida juntamente com outras pessoas que se escondem pelo mesmo motivo.
O que acontece desde o momento em que Anne chega a esse tal anexo é registado no seu diário que se torna o seu melhor amigo e confidente dos pensamentos e análises da realidade que a envolve.

É por causa dessa realidade é que não consegui acabar de ler o livro e se quer considerar que seja algo que deva ser lido. 
Apenas por uma razão muito simples, saber o que sei de forma geral sobre o holocausto já é bastante bastante depressivo. Saber o que uma criança - ainda por cima -, pensou, falou, passou, sentiu e sofreu considero de sado masoquismo literário. 
Repito,  não quero com esta minha análise retirar importância ao livro, apenas não tenho estômago. 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

The Reactionary Mind

O livro The Reactionary Mind (2012) de Corey Robin,  foi chamado à minha atenção pelo artigo que apareceu na revista New Yorker e que informava que esta foi a obra que previu o Donald Trump.
Independentemente disso, através da leitura percebi que há uma espécie de figura ideal que os intelectuais conservadores evocam quando querem discutir sobre a essência da sua ideologia. 

Esta figura é um quietista sonhador de disposição pacífica, que ama a amizade apolítica, nutre de uma visão cética, e olha para uma política anti-teórica de tradição caseira e humana, mas castigado. Em tudo encaixa na personalidade do actual Presidente dos E.U.A
O cientista político Corey Robin argumenta no seu livro de 2012, The Reactionary Mind, que esse ideal é mais como um mito. O conservadorismo, diz Robin, é sempre inerentemente a uma política de reação - geralmente também populista, muitas vezes também violenta. A partir do argumento de Robin, poderíamos prever que a um partido conservador seria improvável que nomeasse o conservador idealizado como seu porta-estandarte, mas que se devia absolutamente a um trabalho populista de Donald Trump.



O argumento de Robin sobre o porquê disso acontecer é um pouco exagerado às vezes, dependente demais de factos convenientes para seus vínculos histórico-teóricos. 

Por exemplo, ele duvidosamente estabelece que os libertários são herdeiros secretos do absolutismo hobbesiano, observando que o economista de livre mercado Milton Friedman era conselheiro do ditador chileno Augusto Pinochet. E os leitores conservadores certamente sentem-se em ver John Calhoun e Ronald Reagan alegremente convocados como membros da mesma equipa política. Da mesma forma, essa ligação audaciosa e enlouquecedora entre um notório apologista da escravidão e um republicano amado forneceu uma acusação polêmica que foi sem dúvida central para transformar o livro em um hit editorial inesperado entre os progressistas ainda energizados pelo movimento Occupy.



Robin estabelece o vínculo necessário entre política conservadora e reacionária, analisando o papel que o conservador toma no drama histórico da mudança social, no momento em que ele é chamado para o cenário de conflito para defender e reivindicar os caminhos tradicionais sob o ataque de reformistas ou revolucionários. 
O exemplo clássico de tal figura é Edmund Burke, filósofo e parlamentar irlandês-britânico que é geralmente considerado o pai do conservadorismo moderno. O  seu texto central, Reflexões sobre a Revolução na França, é ao mesmo tempo um revés contra os métodos e objetivos da revolução e uma defesa da vida tradicional.


O núcleo da rica concepção de tradição de Burke é a sua descrição e defesa do que ele chama de "preconceito" - pelo qual ele significa, grosso modo, a experiência e a virtude que repousam nas normas e práticas cotidianas. É um belo pedaço de prosa sentimental, que expressa uma concepção de vida que é agradável de entreter, ou seja, que nossos hábitos impensados ​​abarrotam a sabedoria das gerações, que o ferreiro ou carpinteiro ou fazendeiro que executa suas tarefas diárias é a última expressão de uma longa prática de tentativa e erro, engenhosa precisamente porque esta prática não participa de nenhuma teoria. O preconceito "torna a virtude de um homem seu hábito", e assim deixa-o profundamente em casa no tempo. O passado sussurra suas instruções para ele, não através de reflexão crítica ou especulação abstrata, mas através das coisas que ele já está fazendo mais ou menos automaticamente.
Tarde na vida, William F. Buckley fez uma confissão para Corey Robin. O capitalismo é "chato", disse o fundador da direita americana. "Dedicar a sua vida a isso", como fazem os conservadores, "é horrível, só porque é tão repetitivo, é como o sexo". 
Com essa improvável conversa, Robin começou a investir dez anos na mente conservadora. O que é conservadorismo, e o que está realmente em jogo para seus proponentes? Se o capitalismo os aborrece, o que os excita? Seguindo o conservadorismo de volta às suas raízes na reação contra a Revolução Francesa, Robin argumenta que o direito é fundamentalmente inspirado por uma hostilidade à emancipação das ordens inferiores. 

Alguns conservadores endossam o mercado livre, outros o opõem. Alguns criticam o Estado, outros o celebram. Subjacente a essas diferenças está o impulso de defender o poder e o privilégio contra movimentos que exigem liberdade e igualdade. 
Apesar da oposição a esses movimentos, os conservadores favorecem uma concepção dinâmica da política e da sociedade - uma que envolve a auto-transformação, a violência e a guerra. Eles também são altamente adaptáveis ​​a novos desafios e circunstâncias. Essa parcialidade à violência e à capacidade de reinvenção tem sido crítica para o seu sucesso. 
Para aqueles que sabem o conservadorismo é uma força política que está alinhada com tradicionalismo, e á transformação gradual.  E que em geral se contrapõem com revolução e medidas impactantes.  
Na verdade não encontrei nenhuma resposta direta para o facto de a New Yorker ter afirmado que este foi o livro que previu o Trump. 
Porém, aumentei em muito o meu conhecimento sobre a corrente política conservadora e talvez esteja aí mesmo a revolução do aparecimento de Trump. 
Por último deixo a ideia, que encontrei no livro e que mais depressa parece encaixar na personalidade desse homem. 

Conservatism is the theoretical voice of this animus against the agency of the subordinate classes. It provides the most consistent and profound argument as to why the lower orders should not be allowed to exercise their independent will, why they should not be allowed to govern themselves or the polity. Submission is their first duty, agency, the prerogative of the elite.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Moonlight, Obra Introvertida

No mundo em que vivemos hoje, a forma de transmitir uma ideia, uma mensagem de algo que nos perturba pode ter quase toda as formas que quisermos. Podemos construir quase tudo o que quisermos. Ou seja, se for o desejo de alguém querer utilizar o filme, ou cinema, como uma forma de transmitir o que pensamos sobre determinado assunto, felizmente isso é possível e depois surgem trabalhos como este.

Dito de outro modo, em Moonlight (2016) Barry Jenkins conseguiu criar um objeto de intensa capacidade reflexiva sobre a criminalidade natural que encontramos nos dias de hoje. Aliada aos problemas sociais que daí resultam. Chamando simultaneamente a atenção para a discriminação, racismo de origem sexual. 








Na verdade, o filme é uma obra introvertida com uma deliciosa banda sonora, uma excelente cinematografia e uma mensagem muito forte. 
Gosto especialmente do uso da luz e a criação de atmosferas mais frias com recurso a cores fortes na intensidade, mas negras no espírito. Em alguns momentos lembrei-me de Kar-wai Won e o seu In the Mood For Love (2000). 

De outra forma também senti a forma de fazer cinema bastante inovadora. Quero dizer a narrativa desenvolve-se de forma lenta na forma do que nos é apresentado. Porém, temos ausência de períodos da vida do nosso protagonista. O salto entre a infância, adolescência e idade adulta é de gigante e propositadamente ocultada.
Dessa forma vejo as três partes da obra como parte de um crescimento forçado, num mundo injusto onde a única forma de sobrevivência é a lei das ruas. 
No entanto o desejo de sobreviver pode-se tornar mais forte e o sentimento mais forte, o amor, ajudar a encontrar o caminho certo.

Por último, quero dizer que este filme é nesta altura para mim o melhor filme do ano que passou. Não só pelo que disse, mas também pelo que senti quando o vi e principalmente a surpresa que me criou. Um ponto muito positivo para o realizador, pois este é o primeiro filme que vejo realizado por ele.   

O Antes, o Durante e o Após da Cara do Soldado de Guerra

Este é um dos projetos mais interessantes que vi de fotografia nos últimos tempos. O trabalho é da fotógrafa holandesa Claire Felicie intitulado  Here Are The Young Man. Baseia-se na captação do retrato de marinheiros holandeses da Marinha Real deportados para o Afeganistão entre 2009 e 2010. 

As fotos são tiradas antes dos soldados irem para o país, durante a sua estadia e após o término da sua missão. A questão passa em olhar para as fotografias de cada um dos soldados e tentar perceber se no tempo em que estiveram em cenário de guerra alguma coisa mudou na sua cara. 

Na primeira foto parece que vemos jovens soldados, cheios de vontade e aspiração para servirem o seu país. Na segunda uma manifestação com o encontro com a realidade e na última a transformação em algo novo e traumatizante.


Claro que é muito subjetivo esta análise. Temos que considerar que passa um ano entre a primeira e a última foto. E muita coisa pode acontecer nesse tempo.
No entanto, o ponto forte destas imagens reside mesmo naquilo que cada um de nós é capaz de sentir e atribuir. De alguma forma colocar-se no lugar de cada um dos soldados e tentar perceber o que aconteceu para haver lugar a uma transformação.
Remete-nos para uma realidade que poucos conhecem e raros são os que realmente mudam por causa desse monstro que é a Guerra. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A minha carta para o Trump.

Dear Mr President, Donal Trump, o meu nome é Nelson Ramos e sou o editor deste blog. Nele falo sobre vários temas mas principalmente os que mais me interessam. E ele nem sempre está primeiro.
Mas posto isso, escrevo-lhe este carta para lhe dar os meus sinceros parabéns pela vitória nas eleições norte americanas.

Porém o senhor parece que não está a receber as melhores críticas. Como mostrou a Marcha Das Mulheres dias depois da sua tomada de posse em que participaram várias estrelas das diferentes artes. 
A comparação digital que a net tem estado constantemente a mostrar e demonstra o número de pessoas que estava na sua tomada de posse comparada com a Obama. Tanto das pessoas que o ridicularizam como memes na rede. 

Mas mais interessante são as covers da edições de imprensa , isto é, revistas conhecidas mundialmente que fazem das suas capaz arte revolucionária. Falo de revistas como a The Atlantic, The New Yorker e Der Spiegel. A sua arte revolucionária demonstra um fanático, revolucionário, autocrático, ditador,  entre outros.












Quer dizer, se confiarmos no que os media dizem o senhor é um monstro com vários tentáculos. Provocando problemas no próprio país, logo com as escolhas para as diferentes pastas do Estado. Estimulo à criação de uma ditadura em que o ditador tem ideias nacionalistas, racistas, xenófobas, em que quer construiu um muro para separar duas nações, dois povos. 
Não sou de todo seu apoiante. Pois o senhor vai provocar a WWIII. Já esta lei da imigração que no fundo é para expulsar os emigrantes está a causar larido no mundo inteiro.

Nesse sentido, e tendo plena consciência de que nunca vai ler esta carta. Até porque não sei se vai chegar ao fim do mandato (espero que não MESMO) escrevo apenas para chamar a sua  atenção às Alterações Climáticas que o senhor recusa-se acreditar. 
No entanto sei que ama o seu planeta e por esse sentido peço-lhe que procure as provas e pode ser que mude de ideia depois de ver este filme e ouvir Carl Sagan a narrar Pale Blue Dot. 

Obrigado pelo seu tempo,

Nelson Ramos.  



quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Silêncio de Scorcese

A euforia dos Óscars anda aí e mais uma vez  o prémio desiludiu-me nas suas nomeações ou melhor nas sua não nomeações. Porém Silence (2016) por Martin Scorcese foi nomeado. 
À frente disso, gostava de falar do filme que estreou recentemente. 

O romance de Endo ocorre num período em que o cristianismo estava gravemente em perigo no Japão. O acolhimento inicial dos missionários estrangeiros pelo Shogunato, que permitiu o estabelecimento de seminários e conversões em massa, foi seguido por uma contestação oficial após a Rebelião de Shimabara (1637-38) e a perseguição de clérigos e leigos. 

Frente à ameaça de morte, dois sacerdotes jesuítas recém-chegados de Portugal, Rodrigues e Garupe (interpretados no filme por Andrew Garfield e Adam Driver, respectivamente), entram no Japão para investigar os relatos de que seu mentor, Ferreira (Liam Neeson) Apostatado sob coação. Ali, eles testemunham em primeira mão a fé dos cristãos japoneses - ou a fé fracassada, como no caso de seu guia, Kichijiro (Yosuke Kubozuka) - bem como a perseguição enfrentada pelas mãos do inquisidor Inoue (Issey Ogata), que supervisiona uma cerimonia formalizada de renúncia em que os católicos são convidados a atropelar a imagem esculpida de Cristo.








Baseado na obra literária (que estou a ler) com o mesmo nome e de Shūsaku Endō. É a história de dois padres portugueses que vão para o Japão do século XVII à procura do seu mentor e na procura da verdade sobre a sua possível morte ou não!


Quando chegam lá dão conta de um Japão devastado, fechado sobre si mesmo e onde os Cristãos não podiam existir e são perseguidos pela inquisição japonesa.
As actividades de evangelização foram iniciadas em 1549, um dos primeiros a chegar foi Francisco Xavier e depressa no tempo, cerca de 300 mil japoneses tinham-se convertido.


Porém, o poder da altura começou a ver o papel dos missionários como ameaçador, porque eles acreditavam mais nas palavras, opiniões do Papa, para tomar as suas decisões do que em si próprios. 
Nesse sentido foi banido do território japonês todo e qualquer sinal cristão. E a sua celebração era completamente proibida, dando assim origem aos Cristão Escondidos (kakure kirishitan). São estes que os dois missionários encontram e com eles começa toda uma busca pela fé. 





De alguma forma o que tentei escrever foi a sinopse do filme. Mas na verdade mais pode ser dito. Tenho quase a certeza que li em qualquer lado que Scorcese demorou 28 anos a realizar este filme. O livro foi escrito em 1966 e pelos vistos fez parte da lista de Scorcese e daí a sua adaptação ao cinema. 

No seu todo, temos uma obra poética sobre a procura de nós mesmos. A necessidade de acreditar no ser superior para pensarmos que a nossa existência tem mais noticiabilidade. Mas o existencialismo vai na percepção do que podemos encontrar na luz ou nas trevas. Traçando uma análise que acreditar é uma decisão que manifesta na realidade em silêncio. Pois se pensarmos bem,  mesmo para aqueles que acreditam, deus nunca falou com ninguém pessoalmente e que esteja vivo. 

A verdade é que este filme ganha mais sabor por estar de alguma forma inserida no melhor momento da História portuguesa. 
Nós descobrimos o mundo, com outros, principalmente espanhóis e holandeses. Tentamos daí evangelizar a palavra de deus em território desconhecido. 
Durante o filme ouvimos algumas palavras em português que em pronuncia anglo saxônica não cai muito bem, mas é assim.

Nós não temos que olhar duro para encontrar em Silence, que se une a The Last Temptation of Christ (1988) e Kundun (1997) no subconjunto de filmes de Scorsese que falam explicitamente sobre as variedades da experiência religiosa. 




sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Everyman, de Philip Roth

Pensar sobre a morte nunca vai ser fácil. Pensar sobre aquilo que já nos está impingido à partida no nosso nascimento. É uma ambiguidade na vida que temos. 
Mas a verdade é que enquanto vivemos nunca pensamos muito sobre a morte, preocupamo-nos mais em viver.  
Por isso é interessante ler, por vezes, livros sobre o tema em questão. Neste caso falo de Everyman (2006) de Philip Roth. 



Ao começar a ler o livro tornou-se obrigatório saber mais sobre o seu autor. Roth é um dos escritores mais premiados da sua geração. Incluindo um Pulitzertrês PEN/Faulkner Award e um Franz Kafka Prize
Eu não sei exatamente o que significa tantos prémios na literatura, mas sinto que algo de bom deverá ser. Principalmente para quem procura  no meio uma forma de refúgio. 
Novamente Roth, tem uma forma de escrever sobre a sua particularidade, uma forma de escrita autobiográfica. E ao mesmo tempo uma forma filosófica e insolente de formalmente distorcer a realidade da ficção. Por outro lado não teme pelas palavras e atira com os palavrões como se fossem palavras que se utilizassem em todas as circunstâncias. 
Tem uma  forma de escrever diabólica.  O livro é uma metáfora entre a morte e a ciência? Foi o que pensei a certa altura da leitura!

A forma de escrever está patente numa liberdade machista. Que fala da morte com prazer macabro, porque a consegue contextualizar, em certa parte do livro, com um tempo de guerra. 
Por outro lado generaliza e fala do poder económico dos judeus, mas também o que eles sofreram na guerra. Pode ser uma metáfora? Perguntei-me! O judaísmo faz parte da sua tradição familiar, daí notar-se essa marca na escrita. 

No livro que fala sobre a morte de uma pessoa, provocada por uma doença hereditária, a morte assume-se como se a doença fosse simbólica da maldição sobre todos os seres vivos. A morte é inevitável.  
A forma como Roth descreve a doença (logo o mal inevitável) e vai avançando. Como faz com que a personagem mude de personalidade. Como descreve a sua força de viver e a forma como ela é sugada pelo vírus de uma doença, capaz de uma dor angustiante.  Manifesta na dor pelas palavras mais simbólicas com a podridão a que todos chegamos. Uma forma muito emotiva que o escritor tem de descrever o processo da morte. Ou as várias formas que ela pode manifestar. Num monólogo quase imperceptível. Que nos toca particularmente. Obriga-nos a pensar.

E pensamos sobre essa escriba grotesca de um momento real de submissão humana a algo que o controla e faz ter este tipo de comportamento. O escritor não tem medo de usar palavras fortes, capazes de chocar pela realidade a que transmite. Uma forma de Roth provocar o leitor. Pois todo o livro é provocativo. 
Referencia a uma parte do livro, no momento em que fala do amigo que faleceu. Pois é preciso fazer um jogo de memória. Relembrar o que já foi lido, mas ao mesmo tempo chegar a uma recordação de vida em que percebeu - percebemos -  o que é a morte. A forma como se tem que lidar com ela. No momento em que ela nos bate à porta.

A vitalidade do amor numa pessoa doente. É uma pessoa viciada no fazer bem às pessoas doentes através da obtenção de prazer sexual. Uma forma terapêutica que o autor descreve de forma soberba neste excerto. 
He was not the first patient to fall in love with his nurse. He was not even the first patient to fall in love with


Maureen. She'd had several affairs over the years, a few of them with men rather worse off than he was, who, like him, made a full recovery with the help of Maureen's vitality. Her gift was to make the ill hopeful, so hopeful that instead of closing their eyes to blot out the world, they opened them wide to behold her vibrant presence, and were rejuvenated.
A forma grotesca de como descreve a morte. Aquilo que nos faz sentir ao ler estas palavras.
But she was pale with helplessness and couldn't stop the tears from running down her face: she wanted her father to be the way he was when she was ten and eleven and twelve and thirteen, without impediment or incapacity – and so did he.


A perda da beleza natural com o percurso natural da idade. Conforme ela avança vamos mudando as prioridades. O que dantes nos preocupava era o aspeto exterior, numa idade mais avançada o que interessa é o interior.
Manifestação de raiva pela família na forma como ele existiu. Quase como se afirmasse que tudo que levou àqueles momentos não podia ter-se passado de outra forma. Temos que aceitar a vida como ela é. Ou melhor, como ela se desenvolve com as nossas ações e decisões.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Eu, Daniel Blake

O filme vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes I, Daniel Blake (2016) é um manifesto ao fim da vida ajuntada com a burocracia das sociedades que vivemos.
A história centra-se em Daniel Blake, um homem que depois de uma vida de trabalho, vê-se preso no desconhecimento da evolução tecnológica e o que isso se torna um problema para ele. 
A sua figura simples contrasta com a complexidade daquilo  que lhe pode tirar tudo até a dignidade.
Mas mesmo sem ela, consegue entrar na vida de uma família e ser pai e avô ao mesmo tempo.






Ken Loach já é a segunda vez que recebe a Palma de Ouro, depois de a ter conseguido com The Wind That Shakes the Barley (2006). É um realizador focado no socialismo  e a que cada parte, em particular, se desenrasca naquele todo.
A sociedade é um todo composto para suster a vida normalizada. Mas ao olhar para cada unidade em particular, percebemos o que pode ser uma injustiça sobre o que foi dado e o que foi recebido.
Em suma, o filme foca-se de forma quase documental na vida de uma pessoa que podia ser qualquer um de nós. Uma pessoa que vive na sociedade, mas a sociedade parece não viver para ele. Denuncia aquilo que existe em todos os países, entre as pessoas mais pobres e incapazes por vezes de sobreviver. É o mundo em que vivemos.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Proust Era Um Humorista

Marcel Proust (1871-1922) foi um escritor françês, cuja obra prima é o colossal Em Busca do Tempo Perdido tendo como título original  À la Recherche du Temps perdu . Uma obra de sete volumes escrita por Proust e alguns dos seus volumes foram publicados após a sua morte solitária, pois nesta altura da sua vida , vivia completamente isolado.
Esta personalidade assenta também num homem homosexual que pertencia há burguesia francesa. Que viveu com o problema da Asma desde criança e é considerado um dos maiores romancistas do século XX.





The Lemonine Affair (Pastiches et mélanges (1919) aparece num período em que Proust ainda socializava e frequentava os saloon da Mme Straus. O livro é escrito na forma da arte novella ou como está escrito no titulo original Pastiches. 
O conteúdo do livro é o escândalo causado por Henri Lemoine, o homem que afirmou que conseguia produzir diamantes a partir do frio. 
Na verdade é que ele conseguiu mesmo que pessoas investissem no seu projeto e um deles foi mesmo Marcel Proust.
O absurdo da situação é explorada por Proust nesse sentido. Escreve na forma literária de outros escritores franceses como Flaubert e Balzac. Até moca dele mesmo.

“Like a bouquet, they brought Lucien the news, presenting me with the denouement of the already
“sketched play, that their friend Marcel Proust had killed himself after the fall in diamond shares, a collapse that annihilated a part of his fortune. A curious person, Lucien assured us, that Marcel Proust, a being who lives entirely in the enthusiasm, in the pious adoration, of certain landscapes, certain books, a person for example who is completely enamored of the novels of Léon Daudet. A”



É uma leitura pequena mas extensa nas ideias. Percebe-se a capacidade de descrição de Proust. Talvez uma característica que se possa encontrar noutros livros do escritor. Outra é  a particularidade de escrever sobre factos da sua vida pessoal. 
Foi uma boa introdução ao autor, pois nunca tinha lido dele nada antes. Um dos pontos mais negativos do livro tem a ver com as personagens ou o desconhecimento que temos delas.
A maioria delas pessoas com peso activo na história francesa. Então, para quem não sabe nada da história de frança é muito complicado.
Por essa razão, antes de ler o livro, será aconselhável tentar saber mais da história do país do croissant.
Porém a capacidade de Proust encarnar outros escritores e brincar com isso é mesmo literatura absurda.   

Reaprender

 Nunca é fácil quando conhecemos uma pessoa. Principalmente se por essa pessoa começarmos a sentir sentimentos.  É uma roda viva de emoções ...