Não vai há muito tempo coloquei aqui um post ao artigo de Chris Anderson, editor da famosa revista Wired onde o mesmo, explicava do seu ponto de vista a evolução da Internet nos últimos vinte anos. A minha principal consideração relacionada com o artigo, na altura, foi em concordar que embora as pessoas tenham acesso a serviços e produtos gratuitos através da Internet, a rotina de todos os dias vai ser sempre um obstáculo à obtenção desses mesmos produtos e serviços. Porque a facilidade com que se obtêm um serviço ou produto pago, não é o mesmo quando eles são gratuitos. Mas no momento estamos a passar uma fase em que a Internet tal como a conhecemos pode sofrer transformações radicais e que levam a uma autêntica segmentação. Nesse sentido veio o responsável da Telefónica, Júlio Linares referir que:
“O principal problema com que se defronta o sector passa por uma grave discrepância entre o crescimento do tráfego, o custo da rede, as receitas que gera e a tensão no investimento”
O conselheiro delegado da Telefónica fala de assimetrias entre os cibernautas que mais utilizam a rede e aqueles que têm uma utilização mais reduzida. Explicando que a solução passava por oferecer serviços de maior eficácia aos diferentes clientes. Na minha opinião, este protótipo de modelo, é uma discussão impertinente porque o que os diferentes clientes ganham é o fim do princípio da neutralidade que a Internet oferece. Porque o principio da neutralidade parte do pressuposto que todas a informações que são passadas na rede devem ser tratadas da mesma forma, navegando sempre à mesma velocidade. Com o fim da mesma iremos assistir a uma segmentação e descriminação na utilização da rede.
Um outro ponto importante é olhar para o gigante monopolista da rede, a Google. Num artigo recente do New York Times, William Gibson, também criador do termo ciberespaço, apontou a sua opinião sobre o gigante da Internet. Nas suas palavras a Google descreve-se como:
"central and evolving structural unit not only of the architecture of cyberspace, but of the world."
Gibson fala das alegações de Eric Schimdt, CEO da empresa, referindo-se aquele à forma como as pessoas utilizam a Internet com recurso à ferramenta Google, referindo mesmo que elas não querem que a Google responda às suas perguntas, mas antes pelo contrário que a Google lhes diga o que devem fazer a seguir. Este parece um cenário preocupante, que Gibson considera que existe, mas com algumas qualificações complicadas:
"Is he saying that when we search for dinner recommendations, Google might recommend a movie instead? If our genie recommended the movie, I imagine we’d go, intrigued. If Google did that, I imagine, we’d bridle, then begin our next search."
O que é importante lembrar é que a Google não é nossa, embora possa parecer confuso pois nós somos os principais fornecedores da empresa em todas as matérias que ela precisa para subsistir. Uma mera procura sobre qualquer informação basta. É aqui que Gibson merece toda a minha atenção quando afirma que isto é o tipo de coisa que Estados-nações e impérios faziam antes. Porém, antes impérios e estados-nações não eram órgãos da global percepção humana. Contudo Gibson adverte:
They had their many eyes, certainly, but they didn’t constitute a single multiplex eye for the entire human species.
Isto tudo é um puro contraste entre o que se quer na teoria e o que existe na prática. Por um lado temos o princípio da neutralidade que evoca uma Internet mais justa e equitativa. Por outro, temos a divergência que existe em aceder a serviços e produtos gratuitos na rede, que acabam por contribuir para o capitalismo desmesurado. Por exemplo, todos os produtos e serviços da Google são gratuitos, ou pelo menos pensamos que são, já sobre isso aqui falei. Contudo todos os lucros brutos da empresa não são distribuídos pelos seus principais fornecedores. No meio de tudo isto as palavras de Eric Schmidt ao Wall Street Journal acerca do futuro do procurar não devem deixar de ser motivo de preocupação sobre a actual e futura Internet:
As you go from the search box [to the next phase of Google], you really want to go from syntax to semantics, from what you typed to what you meant. And that's basically the role of [Artificial Intelligence]. I think we will be the world leader in that for a long time.
O que é mais um contraste, quando temos protagonistas como Patrick Finch a falar sobre a Open Web, e refere que o que é importante sobre a Web não são as qualidades intrínsecas da tecnologia, mas sim as acidentais.
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