Depois de ler Barabbas (1950) de Pär Lagerkvist, um livro que atormenta o leitor com a questão metafilosófica da capacidade de acreditar ou não acreditar na religião, ler Belief or Non-Belief?: A Confrontation (1996) de Umberto Eco (1932-2016), tornou-se uma coincidência inexplicável. Já que encontrei o livro por acaso e no mesmo momento em que ainda estava a assimilar as ideias com que fiquei da leitura da obra do autor sueco.
A obra baseia-se na troca de correspondência entre o intelectual e Carlo Maria Martini (1927-2012). E concentra-se na discussão de ideias e conceitos que foram sendo construídos a partir do momento em que se encontraram factos num livro (a bíblia) que levou o pensamento humano a acreditar ou não na existência de uma entidade divina. Um poder superior, criador de todas as coisas.
Podemos pensar que apenas se baseia na ideia simples da capacidade racional que o ser humano tem de poder viver (acreditar) de acordo com os princípios impostos por esse facto ou, pelo contrário, não concordar de todo com esses valores. Mas a verdade é que a narrativa do livro leva-nos mais longe que isso...
De um lado temos o investigador académico e escritor que é ateu - embora tenha seguido a religião católica até à idade dos 22 anos - e do outro um homem que foi ordenado cardeal e, devido à sua formação, quer intelectual e pessoal, foi imensamente respeitado na Igreja Católica.
Como o próprio título indica, o conteúdo do livro é um confronto de ideias entre o dogma e o cepticismo na religião ou numa entidade metafísica e tudo o que essa questão levanta em 2000 anos de presença nas diferentes culturas.
Logo temos que analisar a questão de um ponto de vista geral e ver todas as reminiscências que isso implica. Ou seja, os dois caminhos traçados (acreditar ou não acreditar) levou à construção de normas, valores morais, espirituais, etc que levam os dois lados a argumentar e refutar os pontos de vista diferentes.
Claro que no livro não é possível discutir todos esses pontos, mas creio que os mais importantes estão lá.
Há uns tempos atrás, depois de ler The God Delusion (2006) de Richard Dawkins, a minha crença metafísica mudou. Passei de ser ateu para agnóstico, porque acredito que isso é uma benção. E mais ainda depois de ler este livro.
A confrontação de ideias entre aquelas duas pessoas, que sabem do que falam, leva-me a crer que toda a diferença entre aqueles que têm uma perspetiva criacionista ou evolucionista baseia-se num meio termo que reside no meio dos dois conceitos e puramente o ser humano nunca terá a capacidade intelectual de entender o que está no meio desses dois paradigmas.
A confrontação dos dogmáticos e os cépticos baseia-se, neste caso entre Eco e Martini, entre o conhecimento do que é realmente factual e o espiritual.
Isto é, ao longo da leitura percebi que uma das questões que ali reside foi que Umberto Eco argumenta com um conhecimento com base científica e mais inteligível. E, pelo contrário, Carlo Maria Santini assenta toda a sua argumentação naquilo que ele decidiu acreditar, a religião católica.
Como é referido pelos dois no livro, os pontos de vista diferentes vão por teses que levou alguns dos leitores a reclamar que eram muito difíceis de entender.
Em suma, eles demonstram que uma conversa entre as duas partes é viável e valorizada, bem como um desacordo entre ideias é possível entre os que acreditam e os que não acreditam.
Porém, quero fechar este post com dois excertos do livro e nomeadamente referenciados por Umberto Eco em duas partes distintas do livro. Pois, para mim são as ideias novas com que fiquei e mais me interessam pessoalmente.
Mais, creio que são ideias que vigoram neste momento e que devem servir para pensar. São eles:
If not, it would be perfectly all right to accept the approach of the end, even without thinking about it, sitting in front of our TV screens (in the shelter of our electronic fortifications), waiting for someone to entertain us while meantime things go however they go. And to hell with what will come.
I reflect on certain semantic questions — and it doesn’t matter if some find our discussion too difficult: they have doubtless been encouraged to think in simplistic terms by mass-media “revelations” which are predictable by definition. Let them learn to think hard, for neither the mystery itself nor the evidence is easy.
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