Neste livro, intitulado The Aesthetic Brain: How We Evolved to Desire Beauty and Enjoy Art (2013) de Anjan Chatterjee, temos uma visão sobre a arte e como ela funciona num todo orgânico no nosso cérebro.
A leitura foi feita de uma forma lenta, porque o tema também é um sobre o qual gosto de refletir. A reflexão obrigou a que tivesse que fazer outro tipo de abordagem. Por isso tentei colocar-me na primeira pessoa na análise ao mesmo. Para que as ideias ficassem incutidas de uma forma mais profunda, esta resenha é baseada em excertos do livro que considero importantes reter.
No livro o autor assume uma teorização científica. Porque normalmente, a objectividade assume uma forma quantitativa. E traduzir experiências estéticas, aparentemente transcendentes, em números é crítico para uma abordagem experimental à estética. Ou seja, informações precisam de ser quantificadas, hipóteses precisam de ser testadas e reivindicações precisam de ser replicadas ou falsificadas.
Aqueles são os fundamentos básicos sobre o qual o progresso em ciência é construído.
No entanto, é esta abordagem que é necessária para haver uma ciência da estética. Talvez porque a experiência estética e uma propriedade emergente de componentes diferentes, que não podem ser derivados a estudar as suas partes.
Por isso, o autor fala no livro sobre os encontros estéticos e não sobre a condição para acontecer tais encontros. Nesse sentido, poupa-nos às conclusões científicas que caracterizam essa escrita.
Assim, o neurocientista coneta a estética psicológica evolutiva com a neurociência. Focando-se sobre o cérebro e os quadros que ajudam melhor a compreender a estética interligando aquelas duas áreas científicas para melhor iluminar o caminho labiríntico da beleza, prazer e arte.
A ideia básica da psicologia evolutiva é que as nossas faculdades mentais ou biologia evoluíram para melhor potencializar as nossas hipóteses de sobrevivência. Partindo deste paradigma, o autor fala de como as experiências agradáveis levantam a questão do que significa ter uma experiência estética?
Nesse sentido responde que no cérebro, os nossos sistemas emocionais de prazer estão alojados em estruturas profundas, distantes da superfície. Juntamente com outras estruturas mentais de sobrevivência. Por essa razão existe um paradoxo: nós evoluímos as nossas respostas à beleza porque elas foram úteis para a nossa sobrevivência, no entanto essas respostas estéticas supostamente não devem ser úteis à nossa sobrevivência! Gostamos do que nós queremos e queremos o que quisermos. Uma linguagem inata no nosso sistema evolutivo.
O que podemos querer sem gosto? Chatterjee dá o exemplo da droga, ou como os drogados se tornam dependentes da droga, ao ponto de não "sobreviverem" sem elas. O vício é o protótipo do estado antiestético.
A experiência estética, segundo o autor deve-se a uma tríade das nossas faculdades: sensações, emoções e entendimento. Este último assume maior importância, porque leva-nos a perceber como a arte pode ser evolutiva. Por exemplo, as pinturas impressionistas hoje em dia adoradas pelo público em geral, inicialmente foram vistas com renitência. A mudança aconteceu na ligação entre os sistemas de recompensa com base no nosso conhecimento e experiência e percepções específicas.
Essa flexibilidade pelos quais os componentes se combinam em conjuntos estéticos é parte do que faz arte e estética experiências ricas e mesmo imprevisíveis. Assim, os estudiosos falam da evolução da arte em duas diferentes perspectivas: ou tomam a arte como instinto ou como um subproduto evolucionista.
Partindo destes dois paradigmas, Chatterjee procura no livro dar uma terceira perspetiva sobre a experiência estética e arte. Nesse sentido, fala-nos da serendipidade (feliz acidente) da arte, isto é, os objetos de arte despertam reações que podem nos dar prazer, mas não têm obrigação de o dar. Mesmo que a maioria das pessoas associem beleza com arte, muitas das vezes, a arte não tem que ser bela para dar prazer, pode mesmo ser feia.
Por outras palavras, o neurocientista explica que a arte contemporânea pode evocar combinações complexas de emoções. Por exemplo, a arte revolucionária, tudo que possa ser criado pelo entendimento da fé, na meditação sobre comportamentos obsessivos, incita-nos a lutar contra sistemas opressivos. Veja-se o exemplo de Ai Weiwei, considerado pela Art Review como um dos artistas mais influentes da atualidade. Como apontam os teóricos expressionistas da arte: a arte pode comunicar emoções, nuances que são difíceis de transmitir em palavras e se transformam na raça do coração.
Snapshot do site de Ai Weiwei |
A neuroestética, àrea em que autor leciona, mostra que o cérebro não tem um módulo dedicado há estética ou arte no cérebro. Nós não temos nenhum receptor estético específico e análogo aos nossos receptores de visão, tacto ou olfacto. Como também não temos também nenhuma emoção estética ao medo, ansiedade ou felicidade, como também à memória, linguagem ou acção.
Em vez disso, aponta que as experiências estéticas envolvem flexíveis conjuntos neurais dos sistemas sensoriais, emocionais e cognitivos. Essa flexibilidade incorpora os conjuntos do que faz a arte e a estética imprevisíveis.
A arte está em toda a parte e existe de uma forma profunda há milhares de anos. A universalidade da arte torna improvável que seja um subproduto de outras capacidades cognitivas evoluídas.
E é nesta parte que a reflexão atingiu o seu êxtase. Pois a leitura deu-me uma nova perspetiva para pensar sobre a arte. O poder da arte é a sua capacidade de mover-nos e fazer-nos experimentar temas antigos com novos olhos, é transmitido através da sua expressão local.
O conteúdo da arte é moldado por condições locais: a cultura em que nasce, os seus antecedentes históricos, as condições económicas da sua produção e recepção e referências relevante para o seu tempo e lugar.
A arte é uma coleção bagunçada de adaptações e é repleta de modificações e plug-ins formado por episódios históricos e nichos culturais.
Quando as pressões culturais selecionam tipos específicos de arte, a arte produzida cai dentro de limites estilizados estreitos. Quando as pressões seletivas culturais são relaxadas, a arte floresce. Não temos um único instinto artístico. Temos instintos que desencadeiam um comportamento artístico. Em vez de ser dominado pelos instintos, é o relaxamento do controle instintivo que permite à arte expressar-se plenamente.
A arte germina instintivamente e amadurece. O seu conteúdo é uma mistura nascida de tempo e lugar e cultura e personalidade.
Poderia ser de outra maneira? Ser privado de uma grande teoria instintiva de arte unificadora não é motivo de preocupação. Em vez disso, a natureza diversa, local e serendipidade da arte é o que nos pode surpreender, iluminar, forçar-nos a ver o mundo de forma diferente, . Quando estamos livres, relaxamos na arte. É um feliz acidente natural e inato.
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