domingo, 1 de julho de 2018

O AI é capaz de produzir arte?

Enquanto certas séries me fazem pensar sobre o futuro da IA como um mal quase apocalíptico. Já que na forma que é abordada é nos mostrado através da arte da televisão, do cinema simulações sobre possíveis futuros em que a máquina domina o seu criador. Há um outro lado da IA que me tem chamado a atenção e é a sua capacidade de criar arte. Ou algo que possa ser considerado arte.

Num artigo da Scientific American essa pergunta também é colocada e analisada de forma a tentar responder. A certa altura do artigo diz o seguinte: 

A mass-produced print of the Mona Lisa is worth less than the actual Leonardo painting. Why? Scarcity—there's only one of the original. But Amper churns out another professional-quality original piece of music every time you click “Render.” Elgammal's AI painter can spew out another 1,000 original works of art with every tap of the enter key. It puts us in a weird hybrid world where works of art are unique—every painting is different—but require almost zero human effort to produce. Should anyone pay for these things? And if an artist puts AI masterpieces up for sale, what should the price be?

Imagem gerada no Deep Dream


A importância do excerto vai no sentido de qual pode ser o valor deste tipo de arte? Mas em primeiro lugar é considerado arte?
A resposta tentei procurar num livro que fala que a arte é um feliz acidenteThe Aesthetic Brain: How We Evolved to Desire Beauty and Enjoy Art (2013) de Anjan Chatterjee.
A teoria apresentada pode ser refutada ou até apoiada por outros autores, mas a verdade é que este é do poucos livros que li sobre o assunto de forma mais científica e profunda.

No livro o autor assume uma teorização científica. Porque normalmente, a objectividade assume uma forma quantitativa. E traduzir experiências estéticas, aparentemente transcendentes, em números é crítico para uma abordagem experimental à estética. Ou seja, informações precisam de ser quantificadas, hipóteses precisam de ser testadas e reivindicações precisam de ser replicadas ou falsificadas.

Aqueles são os fundamentos básicos sobre o qual o progresso em ciência é construído.
No entanto, é esta abordagem que é necessária para haver uma ciência da estética. Talvez porque a experiência estética e uma propriedade emergente de componentes diferentes, que não podem ser derivados a estudar as suas partes.


A mesma imagem gerada do Deep Dream mas com resultado diferente.


Ou seja, a arte criada pela AI tem que se  submeter a algum tipo de estudo científico. Como todas as correntes anteriores, conseguir a definição de arte passa por uma discussão sobre o impacto que este tipo de arte tem.

Mas no entanto indo ao âmago do livro o poder da arte é a sua capacidade de mover-nos e fazer-nos experimentar temas antigos com novos olhos e transmitido através da sua expressão local. 

O conteúdo da arte é moldado por condições locais: a cultura em que nasce, os seus antecedentes históricos, as condições económicas da sua produção e recepção e referências relevante para o seu tempo e lugar. 

A arte é uma coleção bagunçada de adaptações e é repleta de modificações e plug-ins formado por episódios históricos e nichos culturais. 
Quando as pressões culturais selecionam tipos específicos de arte, a arte produzida cai dentro de limites estilizados estreitos. Quando as pressões seletivas culturais são relaxadas, a arte floresce. Não temos um único instinto artístico. Temos instintos que desencadeiam um comportamento artístico. Em vez de ser dominado pelos instintos, é o relaxamento do controle instintivo que permite à arte expressar-se plenamente.

Pegar nesta ideia e passar para a arte criada pela IA é a resposta há pergunta feita anteriormente. Não é o facto de ser arte feita por máquinas. Que não tem qualquer esforço pelo ser humano, mas não deixa de ser uma experiência estética.  Por isso, o autor fala no livro sobre os encontros estéticos e não sobre a condição para acontecer tais encontros. Nesse sentido, poupa-nos às conclusões científicas que caracterizam essa escrita.

Assim, o neurocientista coneta a estética psicológica evolutiva com a neurociência. Focando-se sobre o cérebro e os quadros que ajudam melhor a compreender a estética interligando aquelas duas áreas científicas para melhor iluminar o caminho labiríntico da beleza, prazer e arte.

A ideia básica da psicologia evolutiva é que as nossas faculdades mentais ou biologia evoluíram para melhor potencializar as nossas hipóteses de sobrevivência.

Assim, talvez a resposta sobre se a arte criada pela IA é realmente arte esteja na evolução da biologia para potencializar a sobrevivência.

Tolstoy no seu livro toca no ponto em que a humanidade conheceu a arte. Os escritores das epopeias, não receberam nenhum dinheiro pela sua escrita e pela sua obra. Enquanto nas sociedade das épocas de correntes artísticas era típico haver artistas que recebiam.
A crítica da arte não existe e eu concordo com ele. Analisar a arte é o mesmo que entender o cosmos: não há resposta [pelo menos cientificamente plausível].

A obra é toda uma crítica à arte em si mesmo. Porque ele afirma que arte não se ensina. É impossível ensinar a arte a um homem. O que parece ser contraditório - porque parece que é possível ensinar a arte a uma máquina.

West World, interrogação sobre a Inteligência Artificial

Terminou recentemente a segunda temporada de West World, uma série que aqui já falei num post anterior e que depois de revisto. Levou-me a pensar que o assunto nesse post está pouco desenvolvido depois do fim da segunda temporada.
Sobre a primeira escrevi:

Na série, ao contrário de Lord of the Rings o foco não está no CGI mas na capacidade guionista de como conseguir que o espetador se interrogue pelas personagens e os seus jogos políticos na conquista e passar da imaginação para a realidade.
Em Westworld temos um mundo que foi construído para satisfazer os nossos desejos mais macabros, monstruosos. Que no fundo só é a nossa parte animal!



O post intitulei-o de Fruto Proibido, porque apenas ainda ia a uns episódios na série e bem longe da narrativa que teve um climax inesperado no ultimo episódio da segunda temporada. Mas já na primeira o desenlace foi bem surpreendente.

Na primeira série West World é apresentado como um mundo habitado por hosts que vivem num parque criado por ser humanos e que estes procuram para fugir da sua realidade e entrar noutra onde todo o fruto proibido é permitido.

A narrativa desenvolve-se com alguns dos hosts a mostrarem uma vontade de livre arbítrio e consciência do que são na realidade e para o que servem. Pelo meio percebemos que  a acção acontece em vários períodos no tempo e as personagens se cruzam num complexo jogo distópico entre máquina e homem.

Quase como o livro de Philip K. Dick que foi adaptado para o cinema e já conta com duas versões cinematográficas: Blade Runner  e Blade Runner: 2049.



Frame de Blade Runner 2049



As histórias em si não têm nada a ver, mas o tema é o mesmo. A construção de máquinas para um determinado uso pelo seres humanos. Posteriormente o seu uso torna-se descartável. Surge assim o nascimento de uma consciência de uma nova espécie, que neste caso são robôs e por essa razão, temidos pelo ser humano.

Um mundo onde existem máquinas que pensam como o ser humano e sentido-se usado por ele, viram-se contra ele. Há também uma história de amor entre duas personagens e como esse factor determina toda a narrativa.

Mas ao contrário de Exterminador Implacável não conhecemos já a conclusão das máquinas sobre o seu criador. Em West World assistimos ao início da revolução e como as máquinas começam a rebelião de dentro para fora.

Mas é em toda esta trama  de um mundo distópico produzido pela indústria televisiva que podemos olhar à nossa volta e perceber que a Inteligência Artificial é um recurso que está presente e cada vez tem mais uso nas tarefas humanas. Desde as lojas da Amazom que não possuem caixas de pagamento ao projeto Maven que nos devem fazer pensar sobre esta possível realidade.

Toda a série é caracterizada por diálogos filosóficos e frases complexas que nos interrogam sobre o ser humano, as suas acções e seu lado mais animal. Mas também como a máquina pode ter uma consciência e uma alma e depois de isso acontecer sentir-se como um animal num zoo.

É complexa a resposta perante esta invenção da IA que está a mexer as colunas da sociedade em todas as suas frentes, mesmo na arte. Onde até a seguinte pergunta  é feita por um orgão de comunicação social: A Arte Criada por IA é Realmente Arte?





Em conclusão, o fim da segunda temporada de West World ainda levantou mais perguntas que respostas. Para o fãs da série, como eu esse acontecimento é uma coisa boa - deixa-nos desejosos por mais-.
A série destaca-se das outras do mesmo género porque aposta numa perpectiva sobre a máquina e como esta consegue sucumbir os seus criadores.
Todo esse mundo criado e aparentemente distópico faz-me olhar para o mundo que vivemos hoje e pensar que a IA está cada vez mais desenvolvida. E a criação de máquinas com consciência é inevitável porque o ser humano procura cada vez mais o seu conforto. E com isso um mundo mais automatizado e capaz de limitações. Mas existe a possibilidade de que esse cenário acontecer um dia os hosts  se virem contra ele. Num mundo assim, West World acabaria por ser o melhor exemplo actual.




  

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Blade Runner 2049

Já faz algum tempo que vi o filme. Nesse período foram muitas as vezes que tive vontade de escrever, analisar sobre ele aqui neste espaço pessoal.
Mas em boa verdade, o tempo não ajuda e a falta de vontade também não. No entanto, algumas linhas vou escrever para sossegar o meu âmago.



A sequela foi aguardada pela crítica, e pelo público em geral, durante décadas. Pois o primeiro filme realizado por Ridley Scott tornou-se um clássico imediato aquando da sua estreia nos idos anos 80. 
O primeiro filme foi baseado numa realidade distópica criada por Philip k. Dick num livro que o consagrou como escritor de ficção científica. 
Posto isto, a minha sincera crítica ao filme surge no vazio que me fez sentir, um sentimento bem diferente do que senti no primeiro filme.

Esse vazio, notei mais quando em certa altura do visionamento do filme, senti que era forçado a realização do mesmo. Ou seja, a pressão financeira manchou o filme e acabou por fazer com que ele não conseguisse originar o mesmo tipo de ambiente que o primeiro me passou. 

Olhando unicamente a esse aspeto, posso dizer que o filme foi uma autêntica desilusão. Tão grande que com o climax atirado a nós à velocidade da luz, mais parecia uma telenovela venezuelana com problemas na sincronização do audio com os movimentos bocais dos atores. 






Claro que não descarto qualidade no filme. Até porque de todos que vi no ano transato, este é provavelmente o melhor na categoria de fotografia. Aí estou de acordo com a Academia de Hollywood que atribuiu ao diretor o Óscar na categoria. Porém, a minha opinião sobre o filme ficou muito aquém das expetativas que rondavam o mesmo.

As perfomances dos atores não me convenceram. O enredo pareceu demasiado surreal e forçado para uma sequela que se esperava mais consistente com o original. E, por último, o Harrison Ford não trouxe mesmo nada ao filme. A não ser uma satisfação aos fãs mais fundamentalistas, na mesma linha do seu aparecimento em Star Wars.

O problema central não é o filme em si, mas sim a forma como o mercado cinematográfico funciona no momento. A necessidade da obtenção de lucro a todo o custo, entravou o processo criativo do cinema. Isso fez com que as produtoras olhem para os filmes mais antigos e vejam na realização de sequelas, prequelas, etc o El Dorado que perderam.
Contudo, a magia do cinema perdeu-se completamente ao dar-se prioridade ao lucro em detrimento da qualidade artística. É um problema que precisava de ser analisado e explicado de forma mais profunda. 

Reaprender

 Nunca é fácil quando conhecemos uma pessoa. Principalmente se por essa pessoa começarmos a sentir sentimentos.  É uma roda viva de emoções ...