domingo, 11 de abril de 2010

Duelo entre Titãs

Steve Jobs é um comunicador nato. Que depois da apresentação sobre o novo gadget da empresa que o mesmo lidera, lançou entre os mais fanáticos pela tecnologia e pelos produtos Apple o autentico fascínio pela obra de arte. Veja-se o vídeo abaixo de www.engadget.com que pelas suas imagens e sons demonstram de uma forma muito clara a "loucura"  que houve no dia de lançamento do Ipad. 


Reforçando ainda mais a loucura acontecida no passado 03 de Abril a revista Wired analisou o Ipad e no começo do texto escreveu o seguinte: 
The zeitgeist excitement needle on this gadget has moved past Hula Hoop and Lady Gaga levels, and is approaching zones previously occupied only by the Beatles and the birth-control pill. Can a one-and-a-half-pound slab possibly live up to this massive hype?

No mesmo artigo também é falado das afirmações de Jobs que disse na apresentação que o Ipad iria proporcionar a melhor experiência de internet de sempre, contudo Steven Levy, autor do artigo da revista, afirma: 
First, browsing. Steve Jobs promised that Safari on the iPad would be the best browsing experience ever. It's hard to give it that distinction when it doesn't run Flash, the technology behind a lot of web video and animation. I also miss tabs. That said, the techniques that work well to allow the iPhone to smoothly surf the Web really shine on the bigger screen here.


O que se passa precisamente é que o Ipad não consegue correr a linguagem do software produzido pela Adobe (Flash). Os especialistas consideram que o flash foi o verdadeiro responsável pela mudança de paradigma na web, tornando a interactividade numa nova experiência de navegação online. Nesse sentido o Ipad vai correr a linguagem de programação HTML5
Acerca deste assunto foi começado no facebook uma pequena discussão que dá para entender quais são os aspectos que levam a uma guerra entre titãs (Adobe vs Aplle).



João Martinho é um Artista Digital que se encontra a tirar o Mestrado de Tecnologia e Arte Digital na Universidade do Minho. Foi um dos responsáveis pelo lançamento de um jogo para Ipad no dia do seu lançamento (Smuggi). Na sua opinião: "A Adobe é uma grande empresa, e os seus produtos como o Photoshop ou AfterEffects são fenomenais. Mas fica somente por aí. O Flash é um erro que aconteceu no início da web, e que se proliferou massivamente, com a aceitação da sociedade digital por falta de alternativas. Mas ja há alternativas, que obviamente irão prevalecer.Relativamente à experiência interactiva, não concordo também. O flash não melhora a experiencia interactiva. É verdadeiramente um alien num browser, que está encapsulado num objecto, fechado, não indexável, não pesquisável, de extrema difícil leitura textual, e requer muito processamento do hardware. Não vos incomoda o menu flash quando clicam no butao direito do browser? Conseguem seleccionar conteúdos do flash? Copiar uma imagem? Arrastar algo para o desktop? Conseguem ler bem? Seleccionar texto confortavelmente?Se a Adobe trabalhasse muito, provavelmente conseguiria melhorar isso, mas a sociedade digital anda muito depresa, e a Adobe não irá conseguir acompanhar a velocidade das cosias, acima de tudo pelos terriveis problemas de retro-compatibilidade e multiplataforma que enfrentam. O AS3 foi uma grande melhoria, mas acabou por se tornar muitíssimo complexo, pois tem o legado do AS1 e AS2 em cima.Relativamente ao video. Já experienciaram navegar pelo site da Apple, e sentir o conforto da ausência do flash? Existe lá muito video, mas sem flash, e ainda bem. Já experimentaram o youtube e o vimeo configurados para ver video em html5? O Flash é feito por uma empresa propietária. Tem um custo, quer na sua aquisição e adopção ... Obriga a normas propietárias, que estão sempre a mudar, mas com muito atraso, e que acima de tudo que não vão ao encontro dos fundamentos e visões de Tim Berners-Lee, quando criou a web." 



Já Nelson Zagalo é professor assistente da Universidade do Minho. Na sua opinião: (...) "Mas a verdade é que havia plataformas para isso tínhamos o Shockwave que permitia codificar objectos feitos em Director para ambientes web, mas eram muito pesados e o próprio plug-in era ainda mais pesado. Havia os Applets de Java que eram ainda piores coitadas das máquinas quando aquilo corria coisas gráficas mais puxaditas, e que não tinham nem nunca tiveram qualquer aplicação decente para o desenho de objectos interactivos, era tudo baseado em programação apenas. Por outro lado lembro-me do plug-in do Shockwave ter 10Mb em tempos de modems de 28.8k e o plug-in de Flash ter 400k. Ou seja não havia alternativas viáveis. Mas não podemos chamar-lhe erro se há software que traduz o essencial das condições de interactividade multimédia é o Flash. O Flash nasce directamente do Director, que por sua vez nasce do Hypercard a primeira grande aplicação de authoring de multimédia interactiva. O que aconteceu com o Flash foi passar de uma condição bitmap a uma condição vectorial e com isso poder circular na web facilmente dado o seu reduzido tamanho."Relativamente à experiência interactiva, não concordo também. O flash não melhora a experiencia interactiva."Primeiro temos de ver o Flash no momento em que aparece e agora. Agora tens muitas outras linguagens que permitem criar o que o Flash criava há 15 anos atrás. Mesmo assim criar animação interactiva, para não falar em objectos mais complexos como os Jogos, com uma interface dedicada é muito diferente de o fazer com programação apenas. Aliás veja a plataforma de jogos que reina no Facebook. Depois os problemas que apontas da pesquisa, não são culpa do Flash. O Flash não foi criado para desenhar sites de raiz, mas sim para criar objectos interactivos. Se as pessoas o começaram a utilizar para representação de informação foi porque queriam algo mais... Mas ainda e em relação à pesquisa, como já disse antes, ela é apenas uma das funcionalidades da web. A Pesquisa representa o lado orientado à tarefa, em que o essencial é conseguir o conteúdo e não a forma como se consegue esse conteúdo. Por outro lado a Web é hoje Muito mais do que apenas uma ferramenta de pesquisa, ou seja o que é importante para a generalidade das pessoas é a Experiência, a Emocionalidade da Experiência e não apenas conseguir encontrar o paper A, B ou C, ou livro Y e Z. A generalidade das pessoas querem ser entretidas, querem ser recompensadas. Aliás como disse, se fosse apenas isso nunca a Web teria sido capaz de ultrapassar a Televisão, como o está a fazer nas camadas mais jovens. Mas isto não é mais do que a discussão que vivemos à mais de 15 anos entre Informáticos e Designers. E que é também espelhada pelo Nielsen e pelo Norman. O Nielsen e as suas malfadadas heurísticas de Usabilidade foi um dos grandes detractores do Flash e o Norman acompanhou-o até uma certa altura. Mas em 2002 percebeu que o caminho do design não podia ser isso e seguiu um outro completamente diferente o do Emotional Design (2004).As pessoas gostam de encontrar o que procuram na web, é certo e isso faz parte de um dos grandes apelos. Mas nunca te esqueças que 80% do tempo que as pessoas passam Hoje ligadas à web não é a procurar coisas que precisam, mas é a experienciarem a interactividade da web e à espera que esta lhes proporcione novas experiências."acima de tudo que não vão ao encontro dos fundamentos e visões de Tim Berners-Lee, quando criou a web." Quanto aos fundamentos do Berners-Lee desculpa lá, mas ele apenas conceptualizou a "coisa" tecnologicamente, muito antes dele já tínhamos tido um Vannevar Bush a escrever "As We May Think" e a lançar o design para um Memex isto ainda nos anos 40, e depois nos anos 60 tivemos mesmo uma primeira implementação por Ted Nelson num Xanadu. Estes sim lançaram os fundamentos do Hipertexto que por sua vez permitiram ao Berners-Lee lançar-se na Web. Mas o que importa aqui é que nenhum destes 3 viram o hipertexto/hipermédia e a rede que este gera como algo que se iria transcender, algo que é mais do que a simples pesquisa de informação interligada. A navegação nestas redes é já de si uma experiência, e cabe-nos a nós melhorar essa experiência, não apenas o fim do acesso à informação pretendida.Quanto à necessidade da Adobe melhorar, do Flash evoluir, de o Flash poder ser hoje a parte crappy, concordo, mas ainda não vejo alternativas em termo de ferramentas de Authoring de Multimédia Interactiva que permita aos designers trabalharem, sem o stress da programação. Como bem dizes o AS3 é bom, mas demasiado complexo para eles... vamos ver..."



Como podemos perceber pelos argumentos dos dois especialistas a questão é complexa e envolve um total conhecimento das ferramentas. Mas no meu entender: 

Um entendimento entre os dois Aplle e Adobe apenas iria ser mais benéfico para o consumidor final, que neste caso somos todos nós.  
Claro que do ponto de vista do poder as coisas podem tornar-se eticamente inaceitáveis. A minha ideia não era propriamente uma fusão entre os dois gigantes, mas sim um entendimento que favorecesse todo o consumidor final, não apenas pela oferta mais alargada, mas também pela possibilidade de ele escolher sempre o produto mais eficaz. Porque no meu entender, o Ipad tem sido tão sensacionalista nos media, que sinceramente não sei quantas pessoas terão consciência da não possibilidade de correr o Flash. E aqueles que sabem têm que andar sempre à procura de outros produtos que os sirvam melhor. Complicado.





  

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