quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Tetro


Já não me recordo quando exactamente ouvi falar pela primeira vez de Vincent Gallo, mas sei que já vi duas actuações dele em filmes e um concerto no festival Paredes de Coura há já bastantes anos. Mais concretamente, a minha curiosidade sobre este personagem abriu-se quando estava a ler um artigo de opinião sobre o filme que o próprio realizou e interpretou: "The Brown Bunny". Este filme é de uma complexidade brutal e recordo-me que na altura provocou alguma polémica porque no final do filme havia uma cena de sexo oral explicito de cerca de trinta minutos que escandalizou os espectadores que o assistiram em Cannes. 


Também no concerto a que assisti fiquei com a opinião que este era um artista com um estilo único, com uma ideologia egocêntrica que via a sua arte como apenas criação do seu próprio trabalho e que toda a sua produção é valorizada apenas porque foi "pintada" por ele mesmo. É um ponto de vista sobre a arte "underground" onde na mítica cidade de Nova Iorque se tornou rei e senhor. Um personagem que criou a sua originalidade e não interessa o que os outros dizem, o que ele pensa é o que importa, pelo menos é esta a opinião que tenho sobre ele.


Por tudo isto, achei que Francis Ford Coppola escolheu acertadamente o actor para a personagem que tinha idealizado para o filme Tetro. A personagem é um romancista que oprimido pelo passado, revoltou-se contra a família e renega-a. Mas todas as famílias têm um segredo no seu passado e a família Tetroccini não foge a essa regra. Mas as razões também são outras, porque a existência pode ser marcada por acontecimentos (acidente de carro que Tetro tem com a sua mãe, causando a sua morte) que fazem a diferença entre obtermos a personalidade padrão ou simplesmente sermos desviados noutras personalidades nas quais simplesmente não nos conseguimos enquadrar. São questões levantadas todos os dias por todos os agentes da vida social e Tetro é um bom exemplo de todos nós.  


Mas o filme fala mais sobre a existência humana, mais precisamente sobre o afecto. A divisão e antíteses de laços de amizade e familiar que podem ser causados não apenas pelos nossos actos, mas também os outros (o pai de Tetro) podem ser, afinal, os responsáveis pelo tal desvio. No entanto no momento em que as luzes se apagam tudo é esquecido e as mágoas desaparecem. Somos humanos e aquilo que nos distingue dos animais não é o instinto pela sobrevivência, mas sim a racionalidade influenciada pelo afecto ou emoção. 


A fórmula de Francis Ford Coppola é 1+2+3+4+5 = cinema. Talvez por isso a narrativa seja complexa. A escolha do Black e White e Colour é uma forma de averiguar a atenção. Onde nos leva esta distinção: ao enquadramento da narrativa?  Os saltos criados na cor  que cheia de simbolismo determina a nossa percepção. É a forma de olhar a realidade e perceber que o destino já está escrito em algum sítio, mas a forma onde vamos lá ter pode ser de uma forma não linear. Nuns momentos estamos cheios de cor, noutros invadidos pelo preto e branco. Mas o estado de emoção pode ser, simbolicamente, que a primeira seja uma antítese da segunda.

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