sábado, 4 de fevereiro de 2012

O poder transformador da arte

Wasteland (2010) é um documentário realizado por Lucy Walker. Um trabalho extraordinário sobre um homem, Vick Muniz, com uma arte muito particular e original. Mas mais importante ainda é um documento sobre uma realidade brasileira e focado no espírito humano dos catadores (pessoas que trabalham com material reciclável, no maior aterro do mundo situado no Rio de Janeiro). Aquilo que nos distingue dos animais é a nossa humanidade e isso está bem patente neste documentário.


O ambiente onde se passa a maior parte da ação é o Jardim Gramacho. Segundo a informação passada no documentário, a maior lixeira do mundo e que recebe todos os resíduos da área do Rio de Janeiro no Brasil. Ao visualizarmos as captações feitas no local, deparamos com condições miseráveis da condição humana na ingrata luta pela sobrevivência. Pessoas que nunca tiveram muita sorte na vida, vasculham o lixo em busca de material reciclável para o poderem separar e ganhar dinheiro. 
Ao longo do desenvolvimento da narrativa, vamos conhecendo as suas dificuldades diárias, as suas histórias e mais admirável ainda o seu orgulho enquanto praticantes de uma profissão não reconhecida e descriminada.


Por outro lado, vamos conhecendo o lado humanitário, altruísta e solidário de Vick Muniz. O artista de origem brasileira, que na sua infância habitou a zona. Porém, sorte do destino ou por outra razão qualquer, nos anos oitenta rumou aos E.U.A e a sua vida mudou por completo. 
Tornando-se num dos maiores artistas da contemporaneidade (o próprio no filme afirma que é o brasileiro que no exterior ganha mais dinheiro no mundo); Muniz resolve regressar às suas origens de forma a começar o seu novo projeto e, ao mesmo tempo, fornecer algum tipo de ajuda àquelas pessoas. 


Na sua estrutura cinematográfica não existe grandes pormenores de destaque, também não podemos esquecer que é um documentário. Contudo, ao nível da criação da experiência emocional o filme ganha exponencialmente grandiosidade.
Por um lado, conhecemos a metodologia de um artista com acesso a recursos e uma imensa criatividade num processo artístico admirável. Por outro, a personalidade singular de pessoas que nada têm e, de repente, tornam-se parte de uma arte que viaja pelo mundo estando patente nas melhores galerias do mundo. 



Finalmente, aquilo que mais admirei na película é a concentração no lado altruísta do artista, mas também na sua personalidade enquanto ser único e inimitável pela sua arte e muito modesto. Por outro, o levantamento das aparências dos catadores enquanto seres humanos.
Ao longo do documentário, vamos percebendo que depois de retirarem toda aquela sujidade neles encrostada, são pessoas como qualquer um. Com sentimentos, inteligência e humanidade. E assim a arte consegue ter um poder transformador. 

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