sábado, 2 de março de 2019

Òscars 2018

De facto os Òscars perderam para mim o valor que tiveram desde sempre até há alguns anos atrás. Fui percebendo que cada vez mais eu não ligava aos nomeados, nem estava para perder uma noite a visionar a cerimónia.

Em 2011 escrevi, e foi neste ano que tudo mudou:

E assim já passou a octogésima terceira edição dos Óscars desde a sua primeira edição a 16 de Maio de 1929 no Hotel Roosevelt. De uma forma muito sucinta o que tenho a relatar da cerimónia deste ano é o glamour que sempre invade esta festa de cinema e na forma como milhões de milhões de pessoas esperam para saber os vencedores das diferentes categorias.
Mas como referi logo no início pensei nos Óscars deste ano de uma forma diferente. Em primeiro lugar a clareza que agora se sabe os vencedores, não sendo mais porque nos últimos anos a comunicação social dá mais destaque a outros prémios e festivais (Cannes, Sundance, ...) e com isso normalizou a escolha dos opinion makers e consequentemente da opinião pública. No ponto de vista dos media, são eles na verdade que criam os vencedores. Em segundo lugar, é complicado concordar com a decisão da Academy Of Motion Picture Arts & Sciences quando para nós houve filmes esquecidos e outros que mereciam o Óscar de determinada categoria.

Comecei a observar em mim, depois de escrever aquelas linhas um desinteresse para tudo aquilo que os Òscars sempre representaram. No fundo, os prémios passaram a ser uma escolha popular e de bilheteira e não propriamente da linguagem cinematográfica.

Frame do Filme Roma
Em 2012 alguma esperança renasceu e sobre os prémios da Academia de Hollywood desse ano escrevi:

Podemos também entrar mais profundamente nas diferenças entres os dois filmes. Algo que foi muito bem explicado por Adam Cook num artigo para o notebook do MUBI. Diz ele o seguinte. "Hugo is a 3D/color/American “blockbuster” shot in Paris and London and The Artist is a 2D/black and white/French “festival” film shot in Hollywood." E continua dizendo que eles têm alguns aspetos em comum como: o franco conhecimento de cinema dos dois realizadores; que os dois filmes apresentam-se como uma resiliente (elástico) força e implícitos argumentos que o cinema como tecnologia altera a forma de fabricar a arte e, assim, o cinema consegue evoluir e sobreviver e depois aponta mais analiticamente características (as que estão escritas na citação acima); técnicas que diferenciam os dois.
Quanto a mim, e de forma a finalizar o post, apenas estou contente por a cerimónia dos Óscars deste ano e todas as pessoas responsáveis tenham sido capazes de homenagear o cinema tal como ele é, ou seja, uma forma de arte. E que Michel Hazanavicius e Martin Scorcese tenham ganho os prémios e com isso o mérito reconhecido.
Passaram alguns anos e a decadência do cinema e a sua glorificação maior sofreu um detrimento, que passa pela monopolização da Marvel, sequelas e prequelas e uma falta de originalidade que simplesmente afastou os espectadores e fez o cinema ter perdas irreparáveis.

Por esta e outras razões as plataformas de streaming ganharam o que o cinema perdeu e tornou-se na forma moderna de consumir produtos audiovisuais. E percebemos em 2018 que os estúdios cada vez gastam mais e os prémios cada vez têm menos valor.


Frame do Filme Roma

Concluindo, escrever sobre a glorificação maior do cinema norte americano e mundial, para mim perdeu todo o encanto. Porém este ano os acontecimentos levaram-me a analisar em maior profundidade.

Nomeadamente a forma como as plataformas de streaming se aliaram para renovar estratégias, mais concretamente com o lançamento do filme Bird Box (2018) que teve primeiro a sua estreia em cinema e só depois nas plataformas.  Algo que se provou um sucesso, pois o filme tornou-se um hit viral conquistando milhões de espectadores em todo mundo.

Por outro lado temos também o filme Roma (2018) que é um hino à forma como se pode escrever cinema e usar toda a sua linguagem para criar um objeto capaz de cativar do princípio ao fim do filme. E que também foi nomeado para os Òscars na categoria de melhor filme estrangeiro.

Um filme a preto e branco de Alfonso Cuarón, é um relato auto biográfico do México de hoje. Patente na história de uma empregada doméstica, que espelha todos os mexicanos e que hoje parecem ser perseguidos pela política norte-americana especialmente por Donald Trump e o muro que pretende construir.

Nos Òscars deste ano, vimos mais uma vez que bilheteira é que escolhe os vencedores e a qualidade cinematográfica é circunscrita para um plano de resilientes que ainda respiram cinema.

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