sábado, 7 de novembro de 2009

A Obra de Arte na Era da Reprodutibilidade Técnica


Walter Benedix Schönflies Benjamin nasceu no seio de uma família judaica em Berlim em Junho de 1892 e morreu em Portbou a 27 de Setembro de 1940. Em 1915, conhece Gerschom Gerhard Scholem de quem se torna muito próximo e com quem toma o gosto pela arte e pela religião judaica que estudavam. Em 1919 defende a tese de doutoramento, A Critica de Arte no Romantismo Alemão. Em 1925 constatou que a vida académica estava fechada para si, porque a sua tese de livre - docência A Origem do Drama Barroco Alemão não foi aprovada para publicação pelo Departamento de Estética da Universidade de Frankfurt. Na década de 1920 interessa-se pelo marxismo e com o companheiro Theodor Adorno aproxima-se da filosofia de Georg Lukács. O reconhecimento como crítico literário surgiu quando publica resenhas e traduções, nomeadamente as de Charles Baudelaire. Em 1934 – 1935 refugiou-se na Itália, anos em que as tensões entre o autor e o Instituto de Pesquisas Sociais, que ficou conhecido como Escola de Frankfurt, aumentaram. No ano da sua morte, 1940, escreveu a sua última obra Teses Sobre o Conceito de História. 
O ensaio foi originalmente publicado em francês na revista do Instituto de Investigação Social Zeitschrift für Sozialforschung em 1936. O autor analisa as novas potencialidades artísticas numa medida política, decorrentes da reprodutibilidade técnica. No passado a prática da obra de arte era regulada pela sua aura, ou seja, pela separação e veneração que cada obra de arte única impinge ao espectador. Em primeiro lugar nas sociedades tradicionais em que a obra de arte era observada como um ritual e uma experiência religiosa: “o culto foi a expressão original da integração da obra de arte no seu contexto tradicional. Como sabemos, as obras de arte mais antigas surgiram ao serviço de um ritual primeiro mágico e depois religioso” (pp.82) Em segundo lugar, e com o aparecimento da sociedade moderna, pela sua importância de distinção social como forma de colocar numa outra esfera aqueles que podem aceder à obra “autêntica”: “Considerado de tal ponto de vista, o Cinema representaria um meio de expressão absolutamente incomparável e, na sua atmosfera, só poderiam mover-se pessoas de pensamento muito nobre, em momentos de total perfeição e mistério do trajecto da sua vida” (pp.89). Com a Revolução Industrial e a possibilidade de reprodutibilidade da arte, esta perde a sua “aura” em que deixa de fazer sentido separar entre a obra de arte original e a sua cópia: “assim, a diferença entre autor e público está prestes a perder o carácter funcional, podendo variar de caso para caso. O leitor está prestes a tornar-se um escritor” (pp.97). Este facto liberta a arte para novas oportunidades, transformando a sua aproximação com os observadores mais democrática, fazendo com que a arte contribua para uma “politização da estética” que vá contra a “estetização da política” que caracterizava os movimentos fascista e totalitários da época em que o texto foi escrito: “é isto que se passa com a estética da política, praticada pelo fascismo. O comunismo responde-lhe com a politização da arte”. (pp.113). 






Reflexão Crítica:

Benjamin detém neste seu estudo uma linha de pensamento da primordial conjectura materialista da arte. O assunto principal deste estudo descobre-se na observação das razões e efeitos da aniquilação da “aura” que circunda os produtos artísticos enquanto matéria particularizada e ímpar. Com a evolução do tecnicismo de multiplicação, nomeadamente no cinema e na fotografia, a aura, diluída nas várias cópias do protótipo, exoneraria a obra de arte do seu estado de raridade. Para Benjamin, a partir da ocasião em que a obra fica afastada do ambiente palaciano e religioso, que fazem dela uma coisa para elites e um corpo de veneração, a desagregação da aura abrange grandezas sociais. Essas grandezas seriam consequentes da estreita afinidade existente entre as metamorfoses técnicas da sociedade e as transformações da apreensão estética. A privação da aura e os efeitos civis provenientes desse facto são peculiarmente susceptíveis no cinema, no qual a representação de uma obra de arte carrega consigo a faculdade de uma fundamental mudança qualificativa na conformidade das massas com a arte. Ainda que o cinema, diz Walter Benjamin, ordene o hábito de toda a individualidade viva do sujeito, este abstém-se da sua aura. Se, no teatro, a aura de um Macbeth, por exemplo, coligasse indivisivelmente à aura do artista que o interpreta, tal como essa aura é vivida pelo público, o idêntico não ocorre no cinema, no qual a aura dos actores ausenta-se com a permuta do público pela máquina. No grau em que o actor se torna extrínseco à cena, não é invulgar que os adequados acessórios representem o papel de actores. Benjamin examina ainda que a realidade observada pelos olhos diferencia-se da realidade observada pela câmara, e esta, ao revezar o campo onde o humano age conscientemente por outro onde a sua actividade é mecânica, permite a prática do automático visual, da mesma maneira que a ciência psicanalítica faculta o saber do inconsciente natural. Ostentando, assim, a mutualidade de exercício entre a matéria e o homem, o cinema seria de imenso peso para uma reflexão materialista. Moldado adequadamente ao operariado que se aprontaria para capturar a autoridade, o cinema tornar-se-ia, em consequência, portador de uma excepcional expectativa histórica. Em suma, a decomposição conceptual de Walter Benjamin aponta que as artes de reprodução das obras de arte, fomentam o trambolhão da aura, fomentam a liquidação do componente tradicional da herança cultural, mas, por outro lado, esse método compreende uma causa positiva, na medida em que permite outro relacionamento das massas com a arte, dotando-as de uma ferramenta eficaz de renovação das estruturas sociais. 
O trabalho de Walter Benjamim, que contribuiu para a teoria da estética, combina ideias antagónicas do idealismo alemão, do materialismo dialéctico e do misticismo judaico de Gershom Scholem. Está associado à Escola de Frankfurt de Theodore Adorno e Max Horkheimer e à Teoria Crítica. Foi fortemente inspirado por autores marxistas como Georg Lukács e Bertolt Brecht.

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