terça-feira, 29 de março de 2016

O Rei de Copas, Incompreendido no Mínimo

Vou ter que ser sincero naquilo que vou escrever. Tenho que tentar que a imparcialidade faça parte da minha opinião. E não poderei olhar à admiração que tenho por Terrence Malick. Neste post tenho que ter o papel de opinion maker. 
Num outro post neste blog sobre este realizador escrevi:
Parece haver algo de este sentimento no trabalho de Malick, mas ele recusa-se a explicar-se como realizador.
O mistério nos seus filmes nunca é resolvido, e isso não é importante. Os seus filmes são um tipo de cinema mudo, embora seja um silêncio, de reverência à natureza e à tragédia das preocupações humanas que cegam os seus personagens para a imanência que os rodeia, e só está à espera de alguém para olhar.
E olhar este ensaio de Rachel Glassman é ver as marcas do realizador filósofo que procura no cinema mostrar ao espetador, de forma visual, aquilo que muitas vezes é ignorado.
Os filmes de Malick não são para ser entendidos, são sim artefactos audiovisuais que querem que pensemos que não somos o centro do universo. Pelo contrário, somos apenas um grão na sua vasta amplitude.

Ora, posso dizer isso deste último filme que realizou e que procura mais uma vez abordar todos os temas que mencionei acima. Mas que começa, infelizmente, a ser rotineiro... Outras criticas abordaram o mesmo tema!
Depois de um período longo de paragem na realização, Malick parece estar mais produtivo e nos últimos anos tem aparecido com mais produção, isto é, mais filmes realizados.
O último por sinal foi o que ví.
The Knight Of Cups é o seu último filme, mas de longe é o filme que mais me agradou.





Demasiado noir no sentimento criado. E para quem já conhece um pouco da obra dele, nota demasiadas semelhanças com outros filmes.
Mas isso não é o problema!
Este está numa incapacidade de a linguagem cinematográfica ser capaz de expor o sentido que Malick tem sobre a arte e o entendimento sobre o mundo.
Talvez o meio seja incapacitante, redundante e, pior para o realizador, limitador da sua visão sobre o mundo ou a realidade.
Eu disse talvez, mas a verdade é que neste filme foi o que mais senti (pelo menos até onde vi, e foi mais de metade do filme).
Mais uma vez temos voz off  que comanda a narrativa.
Onde o movimento parece não se diluir pelo que está a ser dito por essas vozes e por isso é confuso! Onde imagens rápidas, sem sentido, são mostradas para ter sentido, mas apenas para os mais eruditos compreenderem ou até mesmo para ninguém a não ser o seu criador.
Onde a decadência é a superatividade da vida e se vivermos desta forma, não temos que ter tabus.
O incompreendido nunca vai ser compreendido. Porque temos que viver de acordo com o compreendido e estabelecido!
A vida é uma estrada e nela vamos percorrendo até encontrar obstáculos.
A forma como os ultrapassámos cabe a cada um, mas Malick quer criar de forma onírica a regra de como viver: a decadência com razão baseada na moral da Razão.



Depois de várias tentativas (pelas que contei foram pelo menos 4) não consegui ver o filme até ao fim.
E cheguei a um ponto em que essa decisão se tornou permanente.
A questão não passa pela qualidade do filme, a interpretação de Christopher Nolan. Ou até a fotografia!
É sim uma saturação...
Malick é um génio, isso eu não ponho em questão. Ele tenta mostrar o mundo aos incompreendidos que pensam que são entendidos...
Mas a forma como ele faz isso é limitadora na linguagem cinematográfica.
Porque as imagens que representam tal sentimento acabam por ser as mesmas. Repetitivas!
A definição do belo tem um limite, que são as suas causas naturais da Natureza.
E é essa que Malick, que tirou a o curso de Filosofia, mais admira, juntamente com o conceito de humanidade, quer num posto bipolar, ter que viver com os seus tormentos, mas ao mesmo tempo com aquilo que não tem controle e não compreende: a realidade.
Num ponto em que as massas é que definem as regras. Se a arte fosse hermeneuticamente compreendida na sociedade, talvez as suas palavras fossem outras e melhor compreendidas?
Malick quer entender, à sua maneira isso, mas chegou a um ponto em que a ferramenta (a cinematografia); que usa precisa de uma metamorfose. Uma modulação na sua escrita e uma procura de outros materiais que sejam mais inteligíveis.
Caso contrário, Malick corre o risco de se tornar um realizador de culto, mas sem audiência...
Em conclusão tem que deixar a criatividade brotar dele novamente, nem que para isso seja necessário uma longa paragem.
Como fez no passado e apenas foi capaz de criar nele uma sensação de criação que ultrapassa o entendimento humano.



Os génios são incompreendidos.  E Malick é um deles.
E a história tem mostrado que todos os génios sofrem momentos de falta de inspiração.
Em que o mesmo (as suas visões, os seus entendimentos sobre a realidade) são repetidos até à exaustão.
Talvez Malick esteja numa dessas fases?
Mas como disse acima tenho que ser imparcial.
E mesmo admirando Malick como admiro, tenho que deixar a razão falar e o conhecimento também.
Este não é o melhor filme de Malick.
A sua criatividade de realizar neste momento está limitada.
Ou ele entra por outra arte para demonstrar o que pensa sobre a realidade (porque a filosofia vai sempre persegui-lo); - a literatura não é má ideia -  ou corre o risco de subir umas escadas muito longas e com algumas quedas pelo meio.
No entanto, recomendo a tentativa de visionar o filme.
Não é tempo perdido. No mínimo temos um filme incompreendido.

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