domingo, 16 de maio de 2010

As práticas de cinema

Este post é sobre as várias práticas que o cinema exige. Um olhar mais demorado sobre os diferentes conceitos que a sétima arte obriga a saber, ou até a desconhecer. Porque a representação num objecto é sempre um ponto de partida inócuo que leva a um ponto de chegada mais interpretativo. 
Contudo, no cinema existe saber definido e é sobre ele que as próximas linhas vão construir significado.

O desenho acima nada tem a ver com qualquer obra cinematográfica conhecida, é apenas uma imagem saída do meu imaginário com recurso a um instrumento próprio para a sua criação. No cinema também existem os instrumentos delimitados para a sua construção. Assim, quem estiver interessado, pode utilizar-los para construir um objecto que reflecte o seu ponto de vista sobre a realidade. Neste sentido, segue traduzido de espanhol para português o guia de recomendações para fazer uma boa análise prática de um filme ou fragmento da professora Rosa Maria Palencia Villa, docente na UAB.  
Antes de tudo é importante saber como devemos interpretar a obra audiovisual e como devemos efectuar o acto de interpretação. Em primeiro lugar devemos fixar o que nos narra o filme ou fragmento e perguntarmos-nos porque entendemos o que pensamos naquele preciso momento. Que elementos da mis en scene nos movem e nos dão conta para entender a história. 
É muito recomendável contar os planos. Servirá para tomar consciência de se tratam de enquadramentos fixos ou móveis, do seu ritmo, do tipo de montagem e da continuidade (raccord). Se não são demasiados planos, servirão para realizar uma análise com mais exaustividade e precisão. 
Depois devemos resumir o sentido narrativo do filme ou fragmento (o que narra), assim como o número de planos. Trata-se de efectuar uma análise de um sentido preenchido com aspectos técnicos, é dizer, com aspectos estudados. o que nos chama atenção e porque estruturam esse sentido. 
Sobretudo evitar descrever o evidente. Não se trata de descrever como se o leitor fosse cego ou surdo, mas sim explicar o sentido que tem os elementos que mencionamos, não apenas mencionar-los.

É um olhar mais atento sobre o significado dos vários elementos que constituem o objecto audiovisual em toda a sua totalidade. Porque a linguagem cinematográfica é constituída por conceitos objectivos, que não são subjectivos como os que compõem a imagem acima. 
Consequentemente devemos prestar atenção a todos os elementos que de seguida resumirei:
  • Cenário/localizações: são reais, reconstruidos? Interiores/exteriores? rurais/urbanos? A sua forma e cor que sentido têm? Se têm, porque se relaciona com o filme ou fragmento analisado?
  • Vestuário/Maquilhagem: a caracterização dos personagens dizem-nos algo ao sentido e à significação do que é narrado? Têm algum valor simbólico?
  • Interpretação: Como valorizo a actuação: diálogos, gestos, movimentos? Há algum momento que nos chama a  atenção? É estilizada, realista...?
  • Iluminação: é de tom alto/baixo?; a qualidade da luz é dura ou suave? a sua direcção é feita como: em três pontos, frontal, horizontal, contrapicada, lateral? A cor significa algo em especial e alguma forma determinada da iluminação? 
  • Enquadramento: é fixo ou móbil? Dentro ou fora de campo? Na profundidade de campo que movimentos internos há?
  • Movimentos da câmara: se os há como são:
  1. Internos na câmara: Acelerados, Inactivos, congelados. 
  2. Deslocamento da câmara sobre o seu eixo: as panorâmicas são: horizontal/ vertical/Obliquo?
  3. Deslocamento da câmara no espaço: o travelling é: vertical/ horizontal/ lateral/perpendicular/ Circular. Há zoom? A câmara é utilizada em mão ou em steady cam ou numa grua?
  • Angulação da câmara: é feita em 0 graus/picado/contra-picado/ muito contra-picado? A um nível recto/ inclinado/ tombado?
Uma vez que distinguimos os enquadramentos fixos ou móveis, detectamos a escala de planos. A menção à escala de planos e o tipo de planos (objectivo/subjectivo) pode fazer-se bem quando falamos de movimentos de câmara ou quando falamos de montagem
  • Montagem: qual o tipo de transição: corte/ encadeado/ fundido/ explorado/ cortina/ íris/? Quais as relações formais/gráficas entre os planos (semelhanças e diferenças)? Quais a relações de sentido entre os planos: causais/ adversativas/ justaposição? Quais as relações espaciais entre os planos: continuidade/ ruptura/ racord de direcção ou posição? O eixo (saltos, mudanças)? Montagem analítica ou conceptual? Quais relações temporais: Duração real/ elipses/  flash back7 flash forward/ (o ritmo da narrativa). 
  • Som: qual o seu papel significante (denotativo e conotativo) na narração? No som temos que prestar atenção aos diálogos /voz: o seu ritmo/ realista ou estilizado/ On ou Off/ Subjectivo ou objectivo? Os efeitos sonoros são aplicados de uma forma fiel? A música é empática ou apática? Qual a função dramática do silêncio? É o papel diagético ou extra-diagético do som. 

E pronto, todo o texto acima é o que se refere como as práticas do cinema ou os conceitos que devemos ter em conta para fazer uma análise um pouco mais formal do filme ou fragmento. Contudo, estas considerações podem não ser tomadas em conta e apenas podemos fruir do objecto em toda a sua mensagem interpretativa sem aplicar uma interpretação mais analítica. 

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