sexta-feira, 2 de março de 2012

Óscars 2012, o cinema pode ser reiventado

E sempre houve mais este ano, tal como tinha finalizado no post do ano passado sobre a maior cerimónia do cinema mundial. Ao contrário do ano passado, não passei uma noite mal dormida na noite do direto. Pensei depois, ainda, em ver em indeferido, mas nem isso me apeteceu fazer. 
Creio que a razão que me levou a fazer isso foi algumas das razões que apontei no post do ano passado. Isto é, a falsidade e ocultação que muitas vezes pode haver (há?) na escolha dos vencedores que são influenciados pelos opinion makers. E a não inserção de grandes filmes de qualidade nos candidatos, tal como considero que aconteceu com Tyrannosaur (2011).
Contudo, depois pelo que fui vendo e lendo nos media acabei por ficar surpreendido com os resultados. Passo a explicar porquê.


Além da mais que mostrada perna de Angelina Jolie, nos Óscars deste ano houve uma celebração e homenagem ao cinema como tecnologia com história e valor artístico. Como uma arte capaz de se reiventar e surpreender. Segundo escreveu Serge Daney , o françês crítico de cinema:
“…The train in the La Ciotat station still keeps arriving, a century later. It’s still possible to put oneself in the position of the frightened spectator, which means that there is something in cinema that is of the past but not past”
Por outras palavras, os grandes vencedores da noite mais esperada pelas estrelas de Hollywood foram The Artist (2011) e Hugo (2011).  Que têm em comum a capacidade de nos mostrar que o cinema ainda é um meio capaz de nos surpreender. Por outro lado, sugere que é imortal e cíclico.  
Não deixa de ser curioso que o primeiro seja um filme a preto e branco. Com recurso a poucos diálogos, uma aposta forte na soundtrack na criação emotiva de experiência, caracterizado pela coragem de Michel Hazanavicius em realizar um filme com aquele guião. Tal como escrevi na análise que fiz ao mesmo aqui no blog, na minha opinião mereceu os prémios de Melhor Filme, Melhor Realizar e  Melhor Ator.
Por outro lado, o segundo é uma aposta na nova estratégia de Hollywood do 3D, embora eu o tenha visto em 2D. Contém no seu argumento uma homenagem a uma das personagens mais importantes da sétima arte, George Méliés. Além disso, é uma película que tenta mostrar a capacidade de imaginação e magia do cinema na mente dos espetadores. Algo que Méliés conseguiu efetivamente criar através da exploração da sua criatividade, tecnologia e arte e que Scorcese conseguiu de uma forma perfeita representar. 
Tudo aquilo, de uma forma resumida, foi o que escrevi também numa outra análise ao filme e, também por isso, considero, indubitavelmente, que mereceu os prémios de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Fotografia.
Finalizando, creio que tudo aquilo é uma prova de que o cinema ainda é capaz de reinventar, mesmo quando alguns falam da sua decadência de criatividade ao longo dos anos pela razão das repetidas sequelas que tem realizado. 



Podemos também entrar mais profundamente nas diferenças entres os dois filmes. Algo que foi muito bem explicado por Adam Cook num artigo para o notebook do MUBI. Diz ele o seguinte. "Hugo is a 3D/color/American “blockbuster” shot in Paris and London and The Artist is a 2D/black and white/French “festival” film shot in Hollywood." E continua dizendo que eles têm alguns aspetos em comum como: o franco conhecimento de cinema dos dois realizadores; que os dois filmes apresentam-se como uma resiliente (elástico)  força e implícitos argumentos que o cinema como tecnologia altera a forma de fabricar a arte e, assim, o cinema consegue evoluir e sobreviver e depois aponta mais analiticamente características (as que estão escritas na citação acima); técnicas que diferenciam os dois. 
Quanto a mim, e de forma a finalizar o post, apenas estou contente por a cerimónia dos Óscars deste ano e todas as pessoas responsáveis tenham sido capazes de homenagear o cinema tal como ele é, ou seja, uma forma de arte. E que Michel Hazanavicius e Martin Scorcese tenham ganho os prémios e com isso o mérito reconhecido. 

Sem comentários:

Reaprender

 Nunca é fácil quando conhecemos uma pessoa. Principalmente se por essa pessoa começarmos a sentir sentimentos.  É uma roda viva de emoções ...