quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

The Artist (2011)

Aquando da minha seleção dos melhores filmes de 2011, ainda não tinha visto durante aquele ano The Artist (2011). Caso tivesse acontecido, por ventura teria entrado na minha listagem. As razões para isso são estas: num tempo em que a película está a perder terreno para o digital, onde o 3D invadiu o cinema como uma praga, a coragem para fazer um filme com esta estrutura já é de si admirável. O filme é uma experiência que nos remonta para o cinema mudo e nos emociona de uma forma profunda e introspetiva. Não me recordo de uma outra vez em que a mise en scene fosse capaz de ser o verdadeiro do foco, nomeadamente a sua soundtrack.


O filme faz recuar a minha memória ao tempo em que via filmes a preto e branco, porém nesse tempo a obrigatoriedade a ver esses filmes estava ligada à oferta dos canais generalistas públicos e ainda sem os canais privados que apareceram no espetro nacional nos anos 90. 
No tempo atual, se não fosse a oferta da Internet, estava limitado a visualizar a praga do 3D que prometeu ser uma autêntica reformulação no cinema, mas acabou por ser um autêntico desastre. E a oferta nos canais generalistas de filmes a preto e branco é rara ou inexistente, sendo que a RTP 2 poderá ser uma exceção. 
Por outro lado, o que me interessa aqui analisar, é uma ideia que me ocorreu durante a visualização do filme. 


Ainda antes do aparecimento do som nos filmes, todas as outras caraterísticas inerentes à sua forma eram o objeto de apreciação do espetadores perante a obra. Contudo, os diálogos ou o som do discurso dos protagonistas era algo que não era dado importância, simplesmente porque não existia. 
Percebendo que ao vermos um filme apenas conseguimos ver uma fração dele e nunca como um todo (como está bem explicado no projeto Cinemetrics); podemos interrogar qual era a importância da mise en scene no tempo em que o cinema era mudo. 
Recorrendo a David Bordwell, entendemos que o termo original vem do francês e que significa pôr em cena uma ação e que no príncipio se aplicava à direção teatral. Estendendo o termo à linguagem cinematográfica, serve para expressar o controlo que o realizador tem sobre o que aparece sobre a imagem fílmica. Isto é, a cenografia; a iluminação, o vestuário, e o comportamento das personagens. 


Com o controlo sobre aqueles elementos, o realizador encena o que é feito para a câmara. O poder da mise en scene é a faculdade de transcender as concepções habituais da realidade, como podemos observar no primeiro mestre que dominou a técnica: George Méliès. 
Durante uma filmagem Méliès teve um problema na câmara no momento que filmava um autocarro. Depois de resolver o problema, voltou a filmar e captou um carro fúnebre. Quando estava a rever o que tinha filmado, quase como por magia deu conta que o autocarro se transformava no carro fúnebre. Seja verdadeira ou não, o que esta estória nos diz é a capacidade poderosa da mise en scene. 



Voltando ao filme, a sua melhor caraterística é mesmo fazer o espetador voltar a esse tempo em que o filme era mudo e o espetador apreciava a obra cinematográfica sem a interferência do discurso dos protagonistas. Não quero com isto dizer que os diálogos não são importantes nos filmes, longe disso. O que estou a tentar explicar é que o filme é uma viagem no tempo e uma forma de nos emocionar literalmente como as pessoas no passado apenas tinham acesso a filmes a preto e branco e a banda sonora atuava em direto durante a projeção do filme. O tempo em que a mise en scene tinha uma estrutura diferente e capaz de submergir o espetador de uma forma completamente diferente no filme. Por último, a narrativa com os seus gaps de som também é uma mais valia do filme, já que a ruptura no seu desenvolvimento é bem explícita graças a esse recurso. 

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